Não, eu não assisti a nenhuma das cópias piratas de Tropa de Elite que abundam nos camelôs há cerca de dois meses. Preferi esperar até essa manhã, quando foi realizada a primeira sessão oficial do novo longa de José Padilha. Não foi apenas por causa da ilegalidade da ação que esperei tanto, mas também por não ver sentido em assistir a um filme desta importância numa cópia tosca (que, segundo dizem, não contém a edição definitiva do longa) exibida numa televisão tosca (a minha, no caso). Decisão acertada. Creiam-me, caros leitores, Tropa de Elite é o filme do ano e nada substitui vê-lo na telona.
A cena de abertura já evidencia que estamos diante de um filme poderoso: o espectador é jogado dentro de um animado baile funk no morro, mas só até a câmera se distanciar e focar num grupo de PM’s que, na maior intimidade com os meliantes, adentra na favela. Em off, a voz rouca de Wagner Moura explica com fina ironia como funciona a convivência entre os poderes paralelos e oficiais nesta cidade maravilhosa. A cena, que parecia introdutória, é quebrada por seqüências de extremo impacto que não entendemos naquele momento. Mas entenderemos no decorrer do filme; aliás, entenderemos muito mais do que gostaríamos.
Com poucos minutos de projeção, ainda no prólogo descrito acima, Tropa de Elite já diz ao que veio. E quando o título do filme - acompanhado da sinistra marca do BOPE - salta na tela, o espectador já está conquistado. É impossível desgrudar os olhos da tela um segundo sequer.
Tropa de Elite foi concebido originalmente como um documentário. Em 2002, quando José Padilha finalizava Ônibus 174, percebeu que havia ali um rico material a ser explorado. Ao contrário do que se pensava a princípio, Padilha afirma que seu filme não é uma adaptação do livro “Elite da Tropa”, que o ex-capitão do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) Rodrigo Pimentel escreveu em parceria com o sociólogo Luis Eduardo Soares. Mas é óbvio que o relatado ali está longe de ser ficcional. Pimentel, aliás, colaborou no roteiro.
O longa gira basicamente em torno de três personagens: um capitão do BOPE que está cansado daquela vida mas, para deixar o posto, precisa de um substituto; e dois aspirantes a oficiais da PM que tentam, ainda que por meios tortuosos, manter algum nível de honestidade. Em algum momento, a vida desses personagens se cruzará.
O roteiro de Rodrigo Pimentel, Bráulio Mantovani e José Padilha é exemplar. Vibrante, cheio de impacto e salpicado por um humor corrosivo. E engana-se quem pensa que apenas a polícia está na mira da metralhadora giratória das críticas. Nenhum segmento da sociedade é poupado, incluindo aí universitários politizados e líderes comunitários. O que Tropa de Elite deixa bem claro é que a polícia é um antro de corrupção e violência sim, mas que ninguém tem muita moral para atirar pedras. Afinal é conveniente para a sociedade como um todo ter quem faça o “serviço sujo”. O excelente roteiro é valorizado pela edição precisa do fera Daniel Rezende, que faz com que o espectador se sinta dentro das situações mostradas.
Também não se pode deixar de ressaltar o excelente elenco. Wagner Moura dispensa apresentações. Wagner Moura é o cara. Outros grandes destaques são o sempre eficiente Caio Junqueira e o estreante André Ramiro como os policiais ainda não corrompidos. Detalhe: André Ramiro trabalhava como bilheteiro em um cinema e saiu direto da portaria para dentro das telas. Também é interessante o trabalho de Milhem Cortaz, que constrói seu personagem de modo bastante dúbio: um policial corrupto, mas gente boa. Regendo tantos talentos individuais, está o maestro José Padilha em seu segundo filme – o primeiro de “ficção”.
Mas o melhor de tudo é que Tropa de Elite é um filme redondo. Não há uma cena sequer que seja dispensável. Quando o filme se aproximava do desfecho, eu cheguei a temer por uma eventual decadência da narrativa. Afinal, quanto melhor o filme maior a dificuldade em encerrá-lo de modo satisfatório. E eis que o milagre aconteceu: uma cena excelente, conclusiva… e o filme acaba! Sem explicações adicionais e desnecessárias. No ponto exato. Se tivesse que descrever Tropa de Elite em apenas uma palavra, a palavra seria: perfeito.
Tropa de Elite (idem), de José Padilha, BRA, 2007. 111’
Filme de abertura do Festival do Rio
Ficha no Adoro Cinema
Nota: 10
A cena de abertura já evidencia que estamos diante de um filme poderoso: o espectador é jogado dentro de um animado baile funk no morro, mas só até a câmera se distanciar e focar num grupo de PM’s que, na maior intimidade com os meliantes, adentra na favela. Em off, a voz rouca de Wagner Moura explica com fina ironia como funciona a convivência entre os poderes paralelos e oficiais nesta cidade maravilhosa. A cena, que parecia introdutória, é quebrada por seqüências de extremo impacto que não entendemos naquele momento. Mas entenderemos no decorrer do filme; aliás, entenderemos muito mais do que gostaríamos.
Com poucos minutos de projeção, ainda no prólogo descrito acima, Tropa de Elite já diz ao que veio. E quando o título do filme - acompanhado da sinistra marca do BOPE - salta na tela, o espectador já está conquistado. É impossível desgrudar os olhos da tela um segundo sequer.
Tropa de Elite foi concebido originalmente como um documentário. Em 2002, quando José Padilha finalizava Ônibus 174, percebeu que havia ali um rico material a ser explorado. Ao contrário do que se pensava a princípio, Padilha afirma que seu filme não é uma adaptação do livro “Elite da Tropa”, que o ex-capitão do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) Rodrigo Pimentel escreveu em parceria com o sociólogo Luis Eduardo Soares. Mas é óbvio que o relatado ali está longe de ser ficcional. Pimentel, aliás, colaborou no roteiro.
O longa gira basicamente em torno de três personagens: um capitão do BOPE que está cansado daquela vida mas, para deixar o posto, precisa de um substituto; e dois aspirantes a oficiais da PM que tentam, ainda que por meios tortuosos, manter algum nível de honestidade. Em algum momento, a vida desses personagens se cruzará.
O roteiro de Rodrigo Pimentel, Bráulio Mantovani e José Padilha é exemplar. Vibrante, cheio de impacto e salpicado por um humor corrosivo. E engana-se quem pensa que apenas a polícia está na mira da metralhadora giratória das críticas. Nenhum segmento da sociedade é poupado, incluindo aí universitários politizados e líderes comunitários. O que Tropa de Elite deixa bem claro é que a polícia é um antro de corrupção e violência sim, mas que ninguém tem muita moral para atirar pedras. Afinal é conveniente para a sociedade como um todo ter quem faça o “serviço sujo”. O excelente roteiro é valorizado pela edição precisa do fera Daniel Rezende, que faz com que o espectador se sinta dentro das situações mostradas.
Também não se pode deixar de ressaltar o excelente elenco. Wagner Moura dispensa apresentações. Wagner Moura é o cara. Outros grandes destaques são o sempre eficiente Caio Junqueira e o estreante André Ramiro como os policiais ainda não corrompidos. Detalhe: André Ramiro trabalhava como bilheteiro em um cinema e saiu direto da portaria para dentro das telas. Também é interessante o trabalho de Milhem Cortaz, que constrói seu personagem de modo bastante dúbio: um policial corrupto, mas gente boa. Regendo tantos talentos individuais, está o maestro José Padilha em seu segundo filme – o primeiro de “ficção”.
Mas o melhor de tudo é que Tropa de Elite é um filme redondo. Não há uma cena sequer que seja dispensável. Quando o filme se aproximava do desfecho, eu cheguei a temer por uma eventual decadência da narrativa. Afinal, quanto melhor o filme maior a dificuldade em encerrá-lo de modo satisfatório. E eis que o milagre aconteceu: uma cena excelente, conclusiva… e o filme acaba! Sem explicações adicionais e desnecessárias. No ponto exato. Se tivesse que descrever Tropa de Elite em apenas uma palavra, a palavra seria: perfeito.
Tropa de Elite (idem), de José Padilha, BRA, 2007. 111’
Filme de abertura do Festival do Rio
Ficha no Adoro Cinema
Nota: 10
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