31 de dez. de 2007

Último do Ano

E eis que chegamos ao final de 2007! Para os internautas que não acompanham o blog desde sua criação, um pequeno retrospecto: o blog do Adoro Cinema foi criado originalmente com o objetivo de agilizar a cobertura do último Festival do Rio. Com o fim do evento (e a boa receptividade de vocês), foi mantido como um espaço aberto para comentar filmes, notícias, frases, situações, enfim, para abrigar tudo que não cabia no formato limitado das colunas.

E a experiência tem sido muito legal, justamente pela possibilidade de receber um retorno imediato dos leitores. Elogios, sugestões, concordâncias, discordâncias, puxões de orelha, perguntas, desabafos, tudo é sempre bem-vindo (tirando os insultos e ameaças de morte, é claro). Os pontos de vista mostrados nem sempre são de acordo com os da maioria, como pode ser visto na enxurrada de opiniões contrárias postadas sobre o filme P.S. Eu Te Amo. Totalmente válidas. As críticas aqui escritas expressam a opinião do colunista, que não pretende ser a única nem a melhor. E o debate saudável é um dos objetivos do blog.

O ano que termina foi bom também para o cinema nacional. Pelo menos três filmes excepcionais passaram por nossas telonas: Tropa de Elite, O Cheiro do Ralo e Batismo de Sangue. Além desta trinca, vale ressaltar o irreverente Saneamento Básico, O Filme, o belo Não Por Acaso, o divertido Podecrer!, o contundente Querô e o lírico A Via Láctea. E tudo indica que em 2008 o cinema brasileiro continuará dando o que falar, já que na próxima sexta estréia o aguardado Meu Nome não é Johnny (crítica do filme no Adoro Cinema).

No mais, escrevo este último post de 2007 satisfeita com o que já foi construído e ansiosa pelo que está por vir no próximo ano. Deixo os cumprimentos também em nome do Francisco Russo, que está viajando, mas logo estará de volta. E continuem participando. Sempre.

Bom Ano-Novo e até 2008!!!

27 de dez. de 2007

Brasil em Berlim


O Festival de Berlim 2008, que acontecerá entre 7 e 17 de fevereiro e tem Tropa de Elite como um dos competidores oficiais, acaba de ganhar mais um representante brasileiro. Trata-se de Maré, Nossa História de Amor, de Lúcia Murat, que será exibido na mostra Panorama. Vale lembrar que os filmes exibidos nesta mostra não concorrem aos prêmios oficiais, apenas ao prêmio do público.

Maré, Nossa História de Amor, a exemplo do clássico Amor, Sublime Amor, é uma versão contemporânea e musical da história de Romeu e Julieta e tem como cenário a Favela da Maré, dividida pela disputa entre duas facções criminosas. No meio da guerra urbana, Analídia e Jonatha se conhecem num grupo de dança da comunidade e desafiam o apartheid imposto pelo tráfico ao se apaixonarem.

O filme, inédito em circuito, foi exibido no Festival do Rio 2007.

Ficha de Maré, Nossa História de Amor no Adoro Cinema

26 de dez. de 2007

O Nome Dele Não é Johnny 2

“Quando eu tô de férias, eu fico vagabundo. E como eu não quero desfilar na São Paulo Fashion Week, eu fico gordinho mesmo e depois corro atrás do prejuízo. Como o que eu quero, tomo o chopinho e tá tudo bem.”


(Selton Mello responde com incrível bom humor à provocação de que ele estaria acima do peso)

Moderação

Algumas pessoas vêem com desconfiança o fato das mensagens dos internautas serem moderadas pela equipe do site. Mas basta dar uma olhada pelos comentários deixados desde a criação do blog para entender que opiniões discordantes são não apenas toleradas como bem-vindas. O objetivo de um blog é o debate mesmo, para expor unilateralmente nossa opinião já existem as colunas. Todos os comentários que dizem respeito a cinema são aprovados, mas é óbvio que isso não inclui xingamentos e/ou ofensas, spams e coisas do gênero.

22 de dez. de 2007

O Nome Dele Não é Johnny

Coletiva de imprensa do aguardado Meu Nome não é Johnny. Segundo informações da assessoria, deveriam estar presentes os astros Selton Mello e Cleo Pires, o diretor Mauro Lima e a produtora Mariza Leão, além, é claro, de João Guilherme Estrella - o próprio Johhny. Chegando lá, começam as baixas: a produtora e o diretor tiveram contratempos de última hora e não puderam comparecer. Algum tempo depois, somos informados de que Cleo Pires (que estava presente no local, sendo entrevistada e fotografada) também não poderia ficar para a coletiva. Das cinco pessoas anunciadas, restavam duas. A boa surpresa é que as duas que ficaram foram responsáveis por um excelente papo. João Estrella, biografado do filme, é uma figura muito simpática e que fala com bastante sinceridade sobre seu passado de sexo, drogas e rock’n’roll. E Selton Mello, além de ser um grandes atores do Brasil, é uma dessas raras pessoas que aliam conhecimento profundo de seu ofício com uma irreverência cativante. Mesmo com visível cansaço físico (tinha chegado de viagem e dali seguia direto para a pré-estréia), o ator se mostrou tão descontraído como o vemos no seu programa Tarja Preta. Seguem dois exemplos:

“Meu primeiro grande personagem no cinema foi no filme Guerra de Canudos. Porque nos primeiros filmes que eu fazia, eu sempre morria no início. Era um trauma que eu tinha, eu nunca passava dos dez minutos. Então, meu sonho era chegar até o final de um filme. No Guerra de Canudos eu morri, mas morri no fim. Fiquei uma hora e meia em cena.”

(Selton explica o carinho que tem por Mariza Leão, produtora de Meu Nome Não é Johnny e Guerra de Canudos)

“Tô acordadíssimo, hein, cara? Dormi cedo, tô pensando bem…”

(Espantado com a própria lucidez após dar uma resposta mais elaborada)

Em tempo: Meu Nome Não é Johnny estréia no dia 4 de janeiro. Aguardem mais comentários aqui no site.

21 de dez. de 2007

P.S. Eu Te Amo


Holly Kennedy é casada com o amor de sua vida: Gerry, um irlandês engraçado, intenso e impetuoso. Quando ele morre aos 35 anos, devido a um tumor cerebral, Holly mergulha numa forte depressão. Até que, no dia de seu aniversário de 30 anos, ela recebe um bolo acompanhado de uma fita que Gerry gravou antes de morrer. Nela, ele exige que ela saia para se divertir e adverte que enviará periodicamente cartas com instruções que ela deve seguir sem hesitar. A partir daí, Holly passa a receber cartas onde Gerry a incentiva a tomar novos rumos na vida, viver aventuras e se redescobrir. Em comum, o fato de todas as mensagens terminarem com “P.S. Eu Te Amo”.

Confesso que já fui munida de uma certa má-vontade porque um filme com um título ridículo desses já é motivo para me deixar ressabiada - e nem adianta culpar os distribuidores, porque a tradução do original é literal. Mas às vezes as aparências enganam e, sinceramente, eu torcia para isso. Infelizmente, a primeira impressão foi a que vingou. P.S. Eu Te Amo é bastante problemático e confuso em suas intenções: tenta fazer graça e ser profundo emocionalmente e fracassa em ambos os caminhos. O roteiro parece um daqueles exercícios de curso de inglês, de “preencha as lacunas”, como se seguisse uma lista pré-determinada de situações que costumam acontecer em filmes românticos. Não há um desenvolvimento psicológico dos personagens. Num momento, Holly está arrasada, sem querer tomar banho nem falar com ninguém. Aí o marido morto diz numa fita que ela precisa se divertir no seu aniversário e dali a pouco ela já está bebendo todas e requebrando numa boate gay. Quem faria uma coisa dessas, considerando que seu desespero fosse genuíno?

Mas a pouca plausibilidade não é o único defeito do filme, que se alonga nas tais cartas que parecem nunca terminar de chegar. De novo, a sensação incômoda de que o roteiro está cumprindo etapas e seguindo fórmulas manjadíssimas. Enquanto isso, a protagonista vai fazendo tudo que o defunto manda: pagar mico no karaokê, viajar, comprar roupa nova. Peraí, é um filme ou uma gincana? Ao redor da viúva sonâmbula, completam o time os tipos mais estereotipados: a sogra que implica com o genro até depois de morto; a amiga que diz que gosta de usar os homens, mas está doida para casar; o cara atrapalhado e rude que, no fundo, é gente boa… e por aí vai.

Hilary Swank, grande atriz e dona de dois Oscars, tem que administrar melhor sua carreira. Não bastasse ter trabalhado em A Colheita do Mal - um dos piores filmes do ano -, ainda completa a dose com este aqui que, se não chega a ser um desastre tão grande, obviamente está muito aquém do calibre de uma atriz talentosa como ela. Detalhe: o diretor Richard LaGravanese e Hilary haviam acabado de trabalhar juntos no inédito por aqui Escritores da Liberdade – outro que parece ter sido um fiasco. Por que ela insiste nessa parceria? Gerard Butler, ainda colhendo os louros do rei Leônidas de 300, é outro que podia ter dispensado esse cachê, apesar do papel de irlandês falastrão e incrivelmente charmoso ter lhe caído como uma luva – Butler é, na verdade, escocês. Resumindo: atores bem escalados e belas paisagens irlandesas é o que podemos apontar de positivo em P.S. Eu Te Amo. E isso é muito pouco para que um filme funcione.

Estréia aqui dia 4 de janeiro.

20 de dez. de 2007

Frase do Dia

“Graças a Deus a indústria cinematográfica é maluca. São todos um bando de
sociopatas.”


(Tim Burton explicando como conseguiu realizar o sangrento musical Sweeney Todd sem concessões)

17 de dez. de 2007

Império dos Sonhos


Uma história de mistério. No coração deste mistério, uma mulher apaixonada e completamente atormentada.

As enigmáticas palavras acima foram a primeira sinopse divulgada, por ocasião do Festival do Rio, de Império dos Sonhos. Chamava a atenção o fato de usarem duas frases para descrever um filme de quase três horas. Após assistir a essa nova viagem de David Lynch, dá para entender o porquê.

Imaginem a seguinte abertura: chuviscos vindos de uma televisão fora de sintonia, numa alusão ao começo de Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer. Logo a seguir, uma mulher chorando (alusão ao Llorando de Cidade dos Sonhos?) assiste a uma esquisitíssima sitcom protagonizada por pessoas vestidas de coelhos que dizem frases dramáticas e desconexas enquanto uma claque ri descontroladamente. Aliás, essa sitcom bizarra é, na verdade, um curta chamado Rabbits (disponível na internet) que originalmente deveria preceder o filme.

Quando a personagem de Laura Dern entra em cena, parece que as coisas começarão a fazer sentido. E fazem… Por cerca de vinte minutos. Laura é a atriz Nikki Grace, que descobre que o filme que está prestes a rodar é, na verdade, remake de uma produção inacabada considerada maldita porque os protagonistas foram assassinados. A partir daí, à medida que o filme avança, a fronteira entre realidade, ficção e puro delírio será cada vez mais tênue.

Certamente não foi por acaso que David Lynch tocou no tema do remake. Ao longo dos tortuosos 172 minutos de Império dos Sonhos, tem-se a impressão de estar visitando a obra do cineasta. De uma maneira perversamente cubista, é claro. Personagens de filmes anteriores reaparecem, situações soam familiares, diálogos são reinventados. Tudo se aproveita, nada se encaixa. O espectador não sabe quando a atriz está dentro do filme. Nem ela mesma sabe. A iluminação no começo tem luz saturada, depois passa a ser avermelhada e escura. Os closes, dignos do bom surrealismo alemão, deformam o rosto dos atores. O estilo do filme e das interpretações passeia pelos gêneros cinematográficos: começa pelo artificialismo dos seriados antigos, flerta com o noir, bebe na fonte do dramalhão mexicano e usa música de terror. Às vezes, um de cada vez; outras vezes, tudo ao mesmo tempo.

É cansativo. Vamos ser francos. Depois de uns quarenta minutos, comecei a ouvir ocasionalmente os barulhos de assentos voltando à posição normal. Várias pessoas, em especial as mais idosas, abandonaram a sala de projeção. Um casal sai resmungando ruidosamente. Eu me mexia, muitas vezes derivava para pensar em outros assuntos, brigava com o cansaço. O próprio David Lynch declarou que inicialmente não sabia se Império dos Sonhos chegaria a se converter num filme.

Ele teve algumas idéias e resolveu filmá-las em digital, sem compromisso de que as cenas tivessem alguma seqüência ou ligação. O ponto de partida de tudo foi uma conversa que teve com Laura Dern, quando ela disse que seu marido era de Inland Empire (título original do longa) e o cineasta gostou do som da expressão. Aliás, uma cena interessante é quando a personagem de Dern vai num talk show comandado por uma perua inconveniente interpretada por Diane Ladd – sua mãe na vida real.

É claro que a obra de Lynch sempre foi marcada pelo bizarro, mas havia um forte sentido em todos os seus filmes anteriores. O polêmico Cidade dos Sonhos pode ser aberto a diversas interpretações, mas está longe de ser aleatório. Fica claro a interligação entre as duas metades do longa. Em Império dos Sonhos, o surrealismo predomina, tornando-o um filme hermético e no qual é muito difícil concentrar a atenção. Um exercício de paciência.

Ficha de Império dos Sonhos no Adoro Cinema

15 de dez. de 2007

Simplicidade Impressionante

“Já tinham me chamado para fazer outros papéis no exterior sim. Pequenas
participações, é claro. Ué, por quê? Porque lá fora é diferente.”

(da diva Fernanda Montenegro, falando a Jô Soares sobre sua participação na produção internacional O Amor nos Tempos do Cólera)

14 de dez. de 2007

Globo de Ouro - As Atrizes

O Globo de Ouro acaba sendo uma pré-lista do Oscar, já que sua divisão em categorias distintas permite o dobro de indicações. Muitas vezes, nenhuma das atrizes indicadas na categoria musical ou comédia migra para o Oscar (por isso, muita gente considera a indicação por drama mais garantida). Pode ser, mas eu tenho minhas dúvidas.

Dentre as atrizes dramáticas, sinto no ar uma boa chance para Angelina Jolie. A moça é engajada, bonita e boa atriz, ou seja, uma figura altamente premiável. Só faltava um papel de peso, que ligasse sua imagem da vida real à sua imagem nas telas. Já Cate Blanchett concorre como coadjuvante também e, nesses casos, há uma tendência a levar o segundo. Mesmo porque sua performance como uma das facetas de Bob Dylan em I’m Not There é de cair o queixo. Jodie Foster - além de já ter sido muito premiada - concorre por um filme mediano. Julie Christie é outra que tem contra si o fato de seu filme não ser muito conhecido. Keira Knightley… Essa tem que dar pulinhos pela indicação, que já tá bom demais.

Na categoria musical ou comédia, a inclusão da impressionante Marion Cotillard dificulta a vida de suas concorrentes. Seu trabalho é mais que atuação, é incorporação. Do mesmo nível de Philip Seymour Hoffman como Truman Capote ou Jamie Foxx como Ray Charles. Mas, cá entre nós, Piaf estar aqui é absurdo. É como comentei no post anterior, não importa se a vida de Edith Piaf foi uma das mais trágicas do showbiz. Biografia de cantora… O filme é um musical. Mas caso a HFPA prefira premiar uma atriz que fale inglês, é uma boa hora para prestigiar a sempre ótima Helena Bonham Carter, já que Amy Adams e Nikki Blonsky (apesar de ótimas) se encaixam naquele perfil de atrizes em que a indicação já é prêmio e Ellen Page é outra que concorre por um filme de pouco peso.

Entre as coadjuvantes, não vejo ninguém que possa atrapalhar a vitória de Cate Blanchett. Cravo meu palpite nela sem dúvida nenhuma.

Globo de Ouro - Os Atores

Analisar os atores em papéis dramáticos esbarra no mesmo empecilho de seus filmes: apenas a performance de George Clooney (Conduta de Risco) pode ser vista no momento. E a respeito dela, pode-se dizer que é boa porém nada fora do normal. Considerando o histórico de seus concorrentes, a briga vai ser boa: Daniel Day-Lewis e Denzel Washington estão sempre bem na tela - mesmo quando o filme não é grande coisa -, enquanto James McAvoy e Viggo Mortensen vêm de bons trabalhos anteriores (O Último Rei da Escócia e Marcas da Violência, respectivamente).

Sobre a categoria comédia ou musical, corro o risco de me tornar repetitiva, mas tenho que bater nessa tecla: quando é que as repetidas indicações de Johnny Depp se converterão em prêmios? De Sweeney Todd só vi o trailer e isso bastou. Pelo amor de Deus, prestigiem o melhor e mais versátil ator do momento. Mas opinião objetiva mesmo não posso dar, já que os cinco atores concorrem por filmes ainda inéditos por aqui. Os concorrentes de Depp são Ryan Gosling, Tom Hanks, Philip Seymour Hoffman e John C. Reilly. Todos bons atores. Talvez Philip Seymour Hoffman leve desvantagem por já ter sido premiado recentemente e também concorrer como coadjuvante.

Dentre os coadjuvantes, a briga é ainda mais feia. Casey Affleck está carismático e terrível como o assassino circunstancial de O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford, Tom Wilkinson está comovente e perturbador em Conduta de Risco e John Travolta é uma explosão de simpatia e alegria em Hairspray. Completando o time (em filmes ainda inéditos), Javier Bardem e Philip Seymour Hoffman são sempre candidatos que devem ser levados a sério. Eu apostaria em John Travolta, pela seriedade com que ele conduziu a personagem Edna Turnblad. Uma atuação fora do tom transformaria a adorável matrona numa drag queen.

13 de dez. de 2007

Globo de Ouro - Os Filmes

A categoria musical/comédia costuma ser meio esvaziada e, volta e meia, premia filmes que se encaixariam melhor como drama simplesmente para tentar equilibrar a disputa (caso de Johnny & June, um indiscutível drama que foi classificado como musical apenas por se tratar da biografia do músico Johnny Cash). Mas este ano temos três musicais de fato: os ótimos Across the Universe e Hairspray e o ainda inédito Sweeney Todd. Completam a lista Charlie Wilson’s War (aparentemente, um filme de espionagem) e a comédia Juno. A disputa promete, mas é bem provável que a coisa fica entre Hairspray e Sweeney Todd.

Já na categoria drama, nada menos que sete filmes brigam pela estatueta. O único passível de ser conferido no momento é Conduta de Risco, que dificilmente será o premiado. Permanecem inéditos os outros seis. Considerando que estão aí incluídos os novos trabalhos de Ridley Scott, irmãos Coen, David Cronenberg e Paul Thomas Anderson, fica impossível arriscar um palpite.

Dentre os filmes em língua estrangeira, mais uma constatação: nenhum brasileiro no páreo. Dos cinco indicados, três foram exibidos no último Festival do Rio: o romeno 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, o francês O Escafandro e a Borboleta e o taiwanês Lust, Caution. Completam a lista o também francês Persepolis e a versão para a telona do best-seller O Caçador de Pipas, pelos Estados Unidos. Mesmo sem ter visto os dois últimos, meu voto é, sem hesitação, para Lust, Caution – que, aliás, não pode concorrer ao Oscar por questões técnicas.

12 de dez. de 2007

Um Amor Jovem


Adaptado e dirigido por Ethan Hawke a partir de seu próprio romance homônimo, Um Amor Jovem (The Hottest State, no original) acompanha os poucos altos e muitos baixos do primeiro amor de William. Tendo nas costas o trauma de ter sido afastado do pai que tanto adorava aos oito anos, devido à decisão da mãe de deixar o Texas e mudar-se para Nova Iorque, aos vinte anos William é um jovem carente e intenso. Ele se encanta pela confusa e instável Sarah e, em menos de uma semana, os dois já vivem juntos e estão totalmente envolvidos. Mas, como ele mesmo diz no início do longa, seu coração será partido antes que ele complete 21, já que sua amada alterna momentos de carinho e entrega com períodos cada vez mais constantes de indiferença.

O protagonista é uma figura que daria uma boa tragédia rodrigueana, caso essa história fosse escrita pelo nosso dramaturgo maior. William ama com tanta intensidade e busca com tanto empenho ser retribuído que acaba por assustar Sarah, fazendo com que ela se retraia com seu ardor. O mais interessante nisso tudo é que tem-se a nítida impressão de que Ethan Hawke fez mais do que levar para as telonas seu romance: levou muito de si próprio, numa curiosa terapia pública. Quem já viu entrevistas do ator (especialmente na época em que ele estava arrasado pelo fim de seu casamento com Uma Thurman) sabe que ele é bem parecido com o personagem. Aliás, Mark Webber (de Querida Wendy) chega até a lembrar fisicamente Hawke quando mais jovem. Quem tiver dúvidas, basta dar uma olhada no ator implorando o amor de Gwyneth Paltrow em Grandes Esperanças.

A história acompanha todas as fases do sofrido romance de William e Sarah, do encantamento à desilusão. Algumas vezes, cansa pelo excesso instabilidade da moça. Suas mudanças de atitude, além de bruscas, são praticamente diárias. Num momento, ela quer casar com ele; no outro, recebe-o de volta de uma viagem com uma frieza inexplicável. O roteiro até tenta explicar o porquê dela ser tão arisca, mas não se aprofunda muito. E quanto mais ela pisa, mais submisso ele se mostra. Está certo que existem relações assim, mas a seriedade com que tudo é mostrado faz o filme ficar engessado em alguns momentos. Igual a Tudo na Vida, de Woody Allen, tem uma trama parecida, porém temperada com humor. O engraçado é que em uma cena William acusa Sarah de não ter humor, o que ele (e o filme) tampouco possuem. Existem, ainda, cenas que escorregam na obviedade e pouco acrescentam à história. Um bom exemplo é quando William grita versos de Romeu e Julieta debaixo da janela de Sarah. Desnecessário.

Um Amor Jovem (péssimo título em português, por sinal) é um filme de ritmo pesado e tem alguns problemas de roteiro, mas pode-se creditar isso na conta de Ethan Hawke como meros tropeços de diretor pouco experiente. A seu favor, pode-se dizer que trata-se de um filme honesto, com bastante conteúdo e que, não raro, alcança seqüências realmente poéticas. Faltou apenas cuidar melhor do formato. Vale conferir e ficar de olho nos projetos futuros do ator/diretor/escritor. A curiosidade para os brasileiros fica com Sônia Braga interpretando a mãe de Catalina Sandino Moreno. Estréia sexta-feira.

10 de dez. de 2007

Títulos D'Além-mar

Apesar da língua ser a mesma, é bastante comum que um mesmo filme tenha títulos diferentes no Brasil e em Portugal. Geralmente em terras lusitanas se segue mais a tradução literal, mas ainda assim volta e meia surge algo surpreendente. Segue alguns casos:

Título no Brasil / Título Original / Título em Portugal:

- Antes só do que Mal Casado / The Heartbreak Kid / O Mal Casado
- Deu a Louca na Cinderela / Happily N’Ever After / E Não Viveram Felizes para Sempre
- Mandando Bala / Shoot’em Up / Atirar a Matar
- Encantada / Enchanted / Uma História de Encantar
- Valente / The Brave One / A Estranha em Mim
- Os Fugitivos / Lonely Hearts / Corações Solitários
- Leões e Cordeiros / Lions for Lambs / Peões em Jogo
- Senhores do Crime / Eastern Promises / Promessas Perigosas

9 de dez. de 2007

Novo Mundo

Os Estados Unidos sempre venderam ao mundo sua imagem de “terra das oportunidades”, como se o país fosse uma mãe bonachona a acolher todos que lá quisessem fincar suas raízes. Se hoje em dia os imigrantes não são bem-vindos, seria uma conseqüência dos perigos do terrorismo. Acredite quem quiser. Um dos grandes méritos de Novo Mundo é esclarecer o quanto sempre foi enganosa essa imagem.

A história começa na Sicília do início do século XX. Salvatore Mancuso, cansado de tanta aridez, sonha com uma vida melhor no chamado Novo Mundo. Vende seus poucos bens e embarca numa insalubre terceira classe de navio com os dois filhos e a mãe rumo a Nova Iorque, porta de entrada dos imigrantes na época. Mas a difícil viagem é apenas a primeira de suas provações e logo Salvatore descobrirá a diferença entre a América real e aquela que ele idealizava.

Em seu quarto filme, o diretor e roteirista Emanuele Crialese faz uma feroz crítica ao modo como os iludidos imigrantes eram tratados ao chegar aos Estados Unidos. O país queria acolher europeus sim, mas preferencialmente aqueles que tivessem algo a acrescentar. Os homens mais inteligentes e/ou mais fortes, as mulheres mais bonitas, etc. O que nos faz pensar que realmente pouca coisa mudou em cem anos.

Também é bem realista o modo como o filme acompanha a travessia dos personagens. Os bons figurinos e a excelente direção de arte colocam o espectador dentro do navio, com a sensação de estar compartilhando das mesmas agruras. Uma pena que a situação se alongue além do necessário, tornando um pouco cansativo o miolo do filme. Talvez tenha sido intencional, para dar a medida exata de como aquelas pessoas se exauriam para chegar à América, mas, ainda assim, um pouco de dinamismo não faria mal algum ao longa. Outro aspecto desnecessário é a constante representação das fantasias que Salvatore tem a respeito do Novo Mundo. Mesmo porque todo o filme tem uma abordagem de cinemão clássico que não combina com aqueles toques surrealistas.

Novo Mundo foi o representante da Itália para o último Oscar, mas não obteve indicação. Não chega a ser uma obra-prima, mas é um bom filme.

Ficha de Novo Mundo no Adoro Cinema

Roteiristas Continuarão de Braços Cruzados

E continua a novela. Segundo a agência de notícias EFE, as negociações entre produtores e roteiristas de Hollywood foram interrompidas na última sexta-feira, após quatro dias de negociações. A Aliança de Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP) acusa os representantes do Sindicato de Roteiristas de terem boicotado a negociação. Já o sindicato alega que os produtores não apresentaram nenhuma nova proposta para resolver o conflito, que já dura cinco semanas. O mais estranho nisso tudo é o fato dessa interrupção ter acontecido logo após as duas partes terem afirmado que estavam em vias de chegar a um acordo. Diversas produções já foram engavetadas por conta do impasse. É certamente a crise trabalhista mais séria da história da indústria hollywoodiana.

6 de dez. de 2007

Bee Movie - A História de uma Abelha


Tem sido tão frequente o uso de animais falantes nos longa-metragens de animação, e tantos têm sido os lançamentos deste tipo, que os novos filmes precisam ter algum diferencial que os tire do lugar comum. Bee Movie até tenta em alguns momentos, mas fica nítido que a necessidade de ser um blockbuster impede que seja mais ousado. E este é o grande problema do filme.

Jerry Seinfeld é endeusado pela finada série “Seinfeld”, exibida entre 1990 e 1998. Era a famosa série sobre nada, com piadas sobre situações de cotidiano e nonsense, obviamente voltada para o público adulto. De um filme de animação que tem como maior destaque a participação de Seinfeld, não apenas como dublador mas também em sua elaboração, se espera um foco justamente no público que o consagrou. E Bee Movie não é assim, ao menos em sua maior parte. Trata-se de um filme com um foco claramente infantil, com algumas poucas - e hilárias - situações adultas.

Um exemplo são as participações especiais, como de Sting, Ray Liotta e Larry King. Todas rendem piadas que dificilmente as crianças entenderão - algumas até exigem certo conhecimento sobre os citados. Mas são pílulas, que surgem aqui e ali apenas. Como um todo o filme busca a criança, com tudo muito colorido, uma colméia similar à vida humana, abelhas que se vestem, exageros nas atitudes humanas… tudo para facilitar a imediata compreensão pelo público infantil. Afinal de contas, é este o motivo do uso de animais falantes: remeter aos animais de estimação e dar asas ao sonho infantil de que é possível conversar com eles. Tudo bem, não se trata de uma reclamação, é algo perfeitamente compreensível. Mas tornar a colméia como uma miniatura adaptada de uma cidade humana, sem que haja justificativa para tanto, é abusar do clichê do gênero. Ou alguém consegue justificar o porquê da colméia ter carros se as abelhas voam?

Bee Movie não é um filme ruim. Há nele momentos divertidíssimos e seu foco infantil não chega a cansar, apesar de incomodar em certas situações. Há até um lado instrutivo, algo que costuma andar longe de filmes hollywoodianos. Mas fica no meio termo entre um filme adulto e um infantil, que o prejudica. Algo que também aconteceu com o recente Tá Dando Onda, só que com o efeito inverso: Bee Movie é mais infantil, enquanto que Tá Dando Onda mais adulto.

Ficha de Bee Movie - A História de uma Abelha no Adoro Cinema

3 de dez. de 2007

30 Dias de Noite


Barrow, uma pequena e remota cidade do Alasca, todo inverno passa por um período de trinta dias sem ver a luz do sol. Nessa época, muitos residentes viajam para o sul e a já reduzida população local costuma cair pela metade. Isolada pela neve e por uma súbita pane em todos os meios de comunicação, Barrow é sitiada por sanguinários vampiros, que se aproveitam dessa noite ininterrupta para caçar e devorar os habitantes. O xerife Eben e sua ex-esposa, Stella, lideram um grupo de sobreviventes e buscam uma maneira de resistir até o retorno da luz do dia. Baseado na graphic novel homônima.

Confesso que tenho uma certa implicância com esse tipo de vampiro animalesco que arranca dentadas de suas vítimas. Como fã dos bebedores de sangue clássicos, acho esses híbridos de vampiro com zumbi no mínimo esquisitos. Mas vá lá. O começo é bom. A ambientação da cidade, com suas casas sobre palafitas, é muito interessante, assim como a idéia do isolamento total de uma localidade por um período pré-determinado. O filme cria uma boa expectativa em cima disso e sabiamente deixa para mostrar as criaturas depois de estabelecido o máximo de suspense possível.

A partir do primeiro encontro dos vilões com os moradores, a história inevitavelmente ganha um tom de filme B. E não poderia ser diferente, considerando a abordagem escolhida para os vampiros. Daí minhas ressalvas a esse estilo de terror, que obrigatoriamente empurra um filme que vinha se desenvolvendo com classe para o segundo escalão. Mas o que realmente põe 30 Dias de Noite num patamar inferior não é nem sua opção estética e sim a baixa qualidade dos diálogos. Os vampiros, em especial, dizem pérolas do tipo “a gente já devia ter vindo aqui há séculos”. Também incomoda um pouco o modo como os dias passam voando: quando nos damos conta, já aparece uma legenda anunciando o 17º dia. E a impressão era a de que se haviam passado dois ou três. E depois disso tudo um personagem procura saber onde é o banheiro do esconderijo. Continuidade estranha, muito estranha.

À frente de elenco, Josh Hartnett confirma que vem se tornando um ator interessante nos últimos anos. Já sua partner Melissa George é mais uma loura inexpressiva de boca grande (de onde elas saem?). A moça tem uma ficha extensa e curiosa no IMDb: fez pequenas pontas em filmes de categoria como Cidade dos Sonhos e Los Angeles - Cidade Proibida e foi uma das, digamos, estrelas do infame Turistas. Sam Raimi, produtor do filme, cogitou dirigi-lo a princípio. Mas essa função acabou ficando para David Slade, que tem como único destaque de sua curta filmografia Menina Má.com. Talvez 30 Dias de Noite rendesse um filme vigoroso nas mãos experientes de Raimi. Com Slade ficou no meio do caminho.

Ficha de 30 Dias de Noite no Adoro Cinema

Across the Universe


Certas idéias são tão boas que a gente se pergunta porque ninguém as havia concretizado antes. As canções dos Beatles retratam de maneira muito direta - e, por isso mesmo, genial - o que era ser jovem nos anos 60. São perfeitas para pontuar uma história de amor passada nessa época de tantas revoluções. Mas, até então, os únicos filmes feitos com trilha exclusiva dos Beatles foram os que o próprio quarteto realizou. Um dos entraves certamente se deve à questão dos direitos das músicas (aquela velha disputa entre Michael Jackson e Paul McCartney). Enfim, é complicado. Mas Julie Taymor, responsável pela versão para a Broadway de O Rei Leão, conseguiu realizar essa façanha de criar um musical original utilizando somente músicas dos Beatles.

A trama é ambientada nos turbulentos anos 60, quando Jude, um jovem estivador de Liverpool, embarca para a América em busca de um pai que ele nunca conheceu. Chegando lá, faz amizade com o rico e rebelde Max, que o convence a acompanhá-lo a Nova Iorque, onde eles se deparam com o início dos protestos contra a guerra do Vietnã, ao mesmo tempo em que a contracultura e o rock fazem a cabeça da juventude engajada. Em meio ao caos, Jude se apaixona por Lucy, irmã de Max. Mas são tempos radicais e o engajamento de Lucy com um grupo pacifista começa a distanciá-la do pacato Jude.

Bom, só pelo nome dos protagonistas já dá para sacar duas das canções que serão usadas. Mas não é só na trilha sonora que o universo dos Beatles está presente. Sobram menções nos diálogos e nas imagens. Exemplos? O logotipo que Jude desenha para uma gravadora é um morango, numa dupla referência: à Apple (maçã, morango, é tudo fruta), gravadora do grupo, e também à canção Strawberry Fields Forever. Existe uma ótima cena em que os personagens cantam Don’t Let me Down no alto de um prédio que é uma referência explícita ao show-surpresa no telhado do prédio da Apple, que rolou até a polícia chegar e acabar com a festa – o U2 também já havia reverenciado o evento no clipe de Where the Streets Have no Name. E os Beatles não são os únicos homenageados: a cantora Sadie e o guitarrista Jo-Jo são praticamente clones de Janis Joplin e Jimmi Hendrix. E, diga-se de passagem, que presença e voz tem a atriz Dana Fuchs. Também é divertida a pequena participação de Bono Vox como um guru meio picareta que acaba de lançar um livro intitulado I am the Walrus.

O roteiro vai além de usar canções dos Beatles para contar a história: a trama é que parece ter sido construída para se encaixar nas 33 canções que permeiam o filme. Pouco importa se a história de amor de Jude e Lucy é lugar-comum, mesmo porque é difícil olhar um musical por essa ótica racional. Os números são incríveis, dá vontade de cantar junto. O contexto em que algumas músicas são usadas também é criativo. Certamente Lennon e McCartney nunca imaginaram que a inocente I Wanna Hold Your Hand seria cantada por uma cheerleader lançando olhares de desejo para outra garota. O único senão da parte musical é que Evan Rachel Wood deixa um pouco a desejar como cantora. Em compensação, Jim Sturgess é muito bom. O ator tem um timbre parecido com o de Paul McCartney - talvez ele tenha forçado a barra para isso, mas o resultado ficou ótimo – e um ar de garotão inglês que lembra Ewan McGregor em início de carreira. Outro aspecto interessante é o modo como o filme apresenta a diferença de culturas e classes sociais no início. Vemos Jude num típico bairro operário inglês e Lucy no universo do high school americano. Basta um olhar para reconhecer onde está cada um.

Across the Universe - assim como o recente Hairspray - é daquele tipo de filme que conquista já na abertura. Numa praia deserta, Jude canta com melancolia os primeiros versos de Girl. Ele pensa em Lucy e a imagem da garota, misturada a cenas de protesto, ganha a telona, ao mesmo tempo em que os acordes da sensacional Helter Skelter começam a tocar. É de arrepiar. Um dos melhores filmes do ano. Desafio o espectador a chegar em casa e resistir a ouvir um CD dos rapazes de Liverpool.

Ficha de Across the Universe no Adoro Cinema

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