Certas idéias são tão boas que a gente se pergunta porque ninguém as havia concretizado antes. As canções dos Beatles retratam de maneira muito direta - e, por isso mesmo, genial - o que era ser jovem nos anos 60. São perfeitas para pontuar uma história de amor passada nessa época de tantas revoluções. Mas, até então, os únicos filmes feitos com trilha exclusiva dos Beatles foram os que o próprio quarteto realizou. Um dos entraves certamente se deve à questão dos direitos das músicas (aquela velha disputa entre Michael Jackson e Paul McCartney). Enfim, é complicado. Mas Julie Taymor, responsável pela versão para a Broadway de O Rei Leão, conseguiu realizar essa façanha de criar um musical original utilizando somente músicas dos Beatles.
A trama é ambientada nos turbulentos anos 60, quando Jude, um jovem estivador de Liverpool, embarca para a América em busca de um pai que ele nunca conheceu. Chegando lá, faz amizade com o rico e rebelde Max, que o convence a acompanhá-lo a Nova Iorque, onde eles se deparam com o início dos protestos contra a guerra do Vietnã, ao mesmo tempo em que a contracultura e o rock fazem a cabeça da juventude engajada. Em meio ao caos, Jude se apaixona por Lucy, irmã de Max. Mas são tempos radicais e o engajamento de Lucy com um grupo pacifista começa a distanciá-la do pacato Jude.
Bom, só pelo nome dos protagonistas já dá para sacar duas das canções que serão usadas. Mas não é só na trilha sonora que o universo dos Beatles está presente. Sobram menções nos diálogos e nas imagens. Exemplos? O logotipo que Jude desenha para uma gravadora é um morango, numa dupla referência: à Apple (maçã, morango, é tudo fruta), gravadora do grupo, e também à canção Strawberry Fields Forever. Existe uma ótima cena em que os personagens cantam Don’t Let me Down no alto de um prédio que é uma referência explícita ao show-surpresa no telhado do prédio da Apple, que rolou até a polícia chegar e acabar com a festa – o U2 também já havia reverenciado o evento no clipe de Where the Streets Have no Name. E os Beatles não são os únicos homenageados: a cantora Sadie e o guitarrista Jo-Jo são praticamente clones de Janis Joplin e Jimmi Hendrix. E, diga-se de passagem, que presença e voz tem a atriz Dana Fuchs. Também é divertida a pequena participação de Bono Vox como um guru meio picareta que acaba de lançar um livro intitulado I am the Walrus.
O roteiro vai além de usar canções dos Beatles para contar a história: a trama é que parece ter sido construída para se encaixar nas 33 canções que permeiam o filme. Pouco importa se a história de amor de Jude e Lucy é lugar-comum, mesmo porque é difícil olhar um musical por essa ótica racional. Os números são incríveis, dá vontade de cantar junto. O contexto em que algumas músicas são usadas também é criativo. Certamente Lennon e McCartney nunca imaginaram que a inocente I Wanna Hold Your Hand seria cantada por uma cheerleader lançando olhares de desejo para outra garota. O único senão da parte musical é que Evan Rachel Wood deixa um pouco a desejar como cantora. Em compensação, Jim Sturgess é muito bom. O ator tem um timbre parecido com o de Paul McCartney - talvez ele tenha forçado a barra para isso, mas o resultado ficou ótimo – e um ar de garotão inglês que lembra Ewan McGregor em início de carreira. Outro aspecto interessante é o modo como o filme apresenta a diferença de culturas e classes sociais no início. Vemos Jude num típico bairro operário inglês e Lucy no universo do high school americano. Basta um olhar para reconhecer onde está cada um.
Across the Universe - assim como o recente Hairspray - é daquele tipo de filme que conquista já na abertura. Numa praia deserta, Jude canta com melancolia os primeiros versos de Girl. Ele pensa em Lucy e a imagem da garota, misturada a cenas de protesto, ganha a telona, ao mesmo tempo em que os acordes da sensacional Helter Skelter começam a tocar. É de arrepiar. Um dos melhores filmes do ano. Desafio o espectador a chegar em casa e resistir a ouvir um CD dos rapazes de Liverpool.
Ficha de Across the Universe no Adoro Cinema
A trama é ambientada nos turbulentos anos 60, quando Jude, um jovem estivador de Liverpool, embarca para a América em busca de um pai que ele nunca conheceu. Chegando lá, faz amizade com o rico e rebelde Max, que o convence a acompanhá-lo a Nova Iorque, onde eles se deparam com o início dos protestos contra a guerra do Vietnã, ao mesmo tempo em que a contracultura e o rock fazem a cabeça da juventude engajada. Em meio ao caos, Jude se apaixona por Lucy, irmã de Max. Mas são tempos radicais e o engajamento de Lucy com um grupo pacifista começa a distanciá-la do pacato Jude.
Bom, só pelo nome dos protagonistas já dá para sacar duas das canções que serão usadas. Mas não é só na trilha sonora que o universo dos Beatles está presente. Sobram menções nos diálogos e nas imagens. Exemplos? O logotipo que Jude desenha para uma gravadora é um morango, numa dupla referência: à Apple (maçã, morango, é tudo fruta), gravadora do grupo, e também à canção Strawberry Fields Forever. Existe uma ótima cena em que os personagens cantam Don’t Let me Down no alto de um prédio que é uma referência explícita ao show-surpresa no telhado do prédio da Apple, que rolou até a polícia chegar e acabar com a festa – o U2 também já havia reverenciado o evento no clipe de Where the Streets Have no Name. E os Beatles não são os únicos homenageados: a cantora Sadie e o guitarrista Jo-Jo são praticamente clones de Janis Joplin e Jimmi Hendrix. E, diga-se de passagem, que presença e voz tem a atriz Dana Fuchs. Também é divertida a pequena participação de Bono Vox como um guru meio picareta que acaba de lançar um livro intitulado I am the Walrus.
O roteiro vai além de usar canções dos Beatles para contar a história: a trama é que parece ter sido construída para se encaixar nas 33 canções que permeiam o filme. Pouco importa se a história de amor de Jude e Lucy é lugar-comum, mesmo porque é difícil olhar um musical por essa ótica racional. Os números são incríveis, dá vontade de cantar junto. O contexto em que algumas músicas são usadas também é criativo. Certamente Lennon e McCartney nunca imaginaram que a inocente I Wanna Hold Your Hand seria cantada por uma cheerleader lançando olhares de desejo para outra garota. O único senão da parte musical é que Evan Rachel Wood deixa um pouco a desejar como cantora. Em compensação, Jim Sturgess é muito bom. O ator tem um timbre parecido com o de Paul McCartney - talvez ele tenha forçado a barra para isso, mas o resultado ficou ótimo – e um ar de garotão inglês que lembra Ewan McGregor em início de carreira. Outro aspecto interessante é o modo como o filme apresenta a diferença de culturas e classes sociais no início. Vemos Jude num típico bairro operário inglês e Lucy no universo do high school americano. Basta um olhar para reconhecer onde está cada um.
Across the Universe - assim como o recente Hairspray - é daquele tipo de filme que conquista já na abertura. Numa praia deserta, Jude canta com melancolia os primeiros versos de Girl. Ele pensa em Lucy e a imagem da garota, misturada a cenas de protesto, ganha a telona, ao mesmo tempo em que os acordes da sensacional Helter Skelter começam a tocar. É de arrepiar. Um dos melhores filmes do ano. Desafio o espectador a chegar em casa e resistir a ouvir um CD dos rapazes de Liverpool.
Ficha de Across the Universe no Adoro Cinema
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