9 de nov. de 2007

No Vale das Sombras


In the Valley of Elah, o enigmático título original do longa, refere-se ao local (hoje parte de Israel) onde, de acordo com a Bíblia, teria ocorrido o confronto entre Davi e Golias. Só por aí já dá para termos uma idéia da vertente seguida por Paul “Crash” Haggis neste seu novo filme. Assim como o rei Saul mandou um garoto enfrentar um gigante armado com cinco pedras, o governo americano tem mandado meninos fantasiados de soldados para sofrer todo tipo de dano no Iraque. E a que custo? O dano físico é apenas a parte mais visível. Mas e quanto aos traumas que uma experiência como essa causa no emocional de alguém que ainda nem abandonou a adolescência?

Hank Deerfield, orgulhoso ex-militar, recebe com choque a notícia de que seu filho Mike teria desertado do Exército em seu primeiro final de semana em casa após retornar do Iraque. Inconformado, Hank decide investigar o desaparecimento do filho por conta própria. Emily Sanders é policial, mãe solteira e constantemente discriminada pelo clube do bolinha da delegacia. Embora Mike tenha desaparecido em sua jurisdição, todos parecem felizes em empurrar a responsabilidade para os investigadores militares. Juntos, Hank e Emily tentam juntar as peças do quebra-cabeça a despeito da relutância das autoridades e, aos poucos, um simples caso de deserção transforma-se num mistério cada vez mais intrincado.

Para escrever esse provocador roteiro, Paul Haggis inspirou-se num artigo publicado na Playboy americana. O filme, num primeiro momento, parece uma patriotada. Mas logo o espectador perceberá que a irritação que sente foi deliberadamente planejada e que aquela empáfia e ufanismo do personagem de Tommy Lee Jones é um prenúncio. Como ele dolorosamente descobre, suas queridas forças armadas são um ídolo com pés de barro. Numa ótima performance, o ator vai se alquebrando e abatendo-se fisicamente à medida que tem seus mais arraigados princípios subvertidos. Charlize Theron mais uma vez precisa fazer um esforço enorme para ficar menos bonita e deixar aflorar um personagem sofrido e subestimado. Esforço compensado, porque sua policial interiorana e complexada é bastante convincente.

Outro trunfo do roteiro é trabalhar à perfeição a inversão de expectativas. Quanto a isso nada mais posso dizer, sob pena de “entregar” demais o desenvolvimento da trama. No todo, No Vale das Sombras não apenas é um filme realizado com extrema competência como também com muita coragem. Comparado a Crash, seu formato é bem tradicional. Mas, em termos de ideologia, é até mais provocador.

O filme estréia daqui a três semanas, no dia 30. Não deixem de conferir.

Ficha de No Vale das Sombras no Adoro Cinema

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