O provocador Michael Moore está de volta. Depois de investigar a fascinação dos americanos por armas de fogo em Tiros em Columbine e cutucar o governo Bush em Fahrenheit 11 de Setembro, o mais polêmico dos documentaristas agora coloca na berlinda o precário sistema de saúde de seu país. A partir de depoimentos de pessoas que tiveram suas vidas arrasadas pelo perverso esquema dos planos de saúde (não existe saúde pública nos EUA), Moore expõe as vísceras de um sistema pautado pelo lucro a qualquer preço. E, pior, com a benevolência do governo. Uma vez traçado o painel da caríssima saúde privada americana, o cineasta faz um levantamento de como funcionam as coisas em países onde o sistema de saúde é estatal e, portanto, gratuito. Moore visita Canadá (aliás, seu país comparativo por excelência), Inglaterra, França e até mesmo Cuba.
Michael Moore sempre dividiu opiniões. Os que se identificam com o seu estilo cara-de-pau costumam gostar de todos os seus filmes. Já os que o consideram um farsante geralmente detestam sua obra por completo. É claro que Moore é tendencioso em seus documentários e está longe de ser um observador imparcial do que denuncia, mas, por outro lado, é preciso considerar os objetos de suas denúncias. Indústria bélica, governo Bush, sistema de saúde… Ou seja, inegáveis escroques. E Moore faz esses caras de palhaços, torce suas declarações, os persegue com suas perguntas indiscretas. E se ele se excede aqui ou ali… Bom, é muito divertido quando isso acontece.
SOS Saúde está longe de ser muito barulho por nada. Podemos dizer que o sistema americano de saúde consegue ser tão ruim – ou pior – que o brasileiro. Funcionários orientados a buscar brechas para lesar o associado, a ponto de uma empresa ter um bônus oficial para o examinador que negar mais solicitações. Pessoas endividadas porque tiveram o azar de ficar doentes. Pessoas mortas antes que a burocracia se resolva. E até mesmo um hospital com um inventivo método de expulsão de pacientes que não têm como pagar pela internação. Um circo de horrores. Apelativo? Não. Revoltante.
Depois de enumerar as canalhices das empresas americanas, o filme fica ainda mais pungente quando compara tais perversões com a eficiência humanitária de países onde o governo arca com esses custos. Os canadenses, ali do lado, com seus hospitais totalmente gratuitos, têm verdadeiro pavor de ir aos Estados Unidos e precisar de atendimento médico. Franceses e ingleses idem. Mas a comparação mais irônica e provocante é feita com os demonizados cubanos. Uma das imagens mais impactantes é a da mulher americana que chora de indignação quando descobre que o remédio pelo qual paga religiosamente U$ 120 em seu país custa o equivalente a cinco centavos em qualquer farmácia cubana.
Além da denúncia aos interesses corporativos e da omissão – ou corrupção - governamental, SOS Saúde também é uma sátira corrosiva. Michael Moore tem um talento especial para mesclar suas denúncias com um humor anárquico e uma edição de imagens genial. Simplesmente imperdível.
SOS Saúde (Sicko), de Michael Moore, EUA, 2007. 123’ (LEP)
Mostra Panorama
Nota: 9,0
Ficha no Adoro Cinema
Texto publicado originalmente em 02/10/07, durante a cobertura do Festival do Rio.
Michael Moore sempre dividiu opiniões. Os que se identificam com o seu estilo cara-de-pau costumam gostar de todos os seus filmes. Já os que o consideram um farsante geralmente detestam sua obra por completo. É claro que Moore é tendencioso em seus documentários e está longe de ser um observador imparcial do que denuncia, mas, por outro lado, é preciso considerar os objetos de suas denúncias. Indústria bélica, governo Bush, sistema de saúde… Ou seja, inegáveis escroques. E Moore faz esses caras de palhaços, torce suas declarações, os persegue com suas perguntas indiscretas. E se ele se excede aqui ou ali… Bom, é muito divertido quando isso acontece.
SOS Saúde está longe de ser muito barulho por nada. Podemos dizer que o sistema americano de saúde consegue ser tão ruim – ou pior – que o brasileiro. Funcionários orientados a buscar brechas para lesar o associado, a ponto de uma empresa ter um bônus oficial para o examinador que negar mais solicitações. Pessoas endividadas porque tiveram o azar de ficar doentes. Pessoas mortas antes que a burocracia se resolva. E até mesmo um hospital com um inventivo método de expulsão de pacientes que não têm como pagar pela internação. Um circo de horrores. Apelativo? Não. Revoltante.
Depois de enumerar as canalhices das empresas americanas, o filme fica ainda mais pungente quando compara tais perversões com a eficiência humanitária de países onde o governo arca com esses custos. Os canadenses, ali do lado, com seus hospitais totalmente gratuitos, têm verdadeiro pavor de ir aos Estados Unidos e precisar de atendimento médico. Franceses e ingleses idem. Mas a comparação mais irônica e provocante é feita com os demonizados cubanos. Uma das imagens mais impactantes é a da mulher americana que chora de indignação quando descobre que o remédio pelo qual paga religiosamente U$ 120 em seu país custa o equivalente a cinco centavos em qualquer farmácia cubana.
Além da denúncia aos interesses corporativos e da omissão – ou corrupção - governamental, SOS Saúde também é uma sátira corrosiva. Michael Moore tem um talento especial para mesclar suas denúncias com um humor anárquico e uma edição de imagens genial. Simplesmente imperdível.
SOS Saúde (Sicko), de Michael Moore, EUA, 2007. 123’ (LEP)
Mostra Panorama
Nota: 9,0
Ficha no Adoro Cinema
Texto publicado originalmente em 02/10/07, durante a cobertura do Festival do Rio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário