16 de mar. de 2008

Na Natureza Selvagem


“Eu fui à floresta porque queria viver intensamente e sugar toda a essência da vida, e arrancar de mim tudo que não fosse vida. Para mais tarde, ao morrer, não descobrir que não havia vivido.”

A máxima acima de Henry David Thoreau, embora não tenha sido citada textualmente ao longo de Na Natureza Selvagem, é a idéia que norteia seu protagonista. Christopher McCandless acaba de se formar. É um rapaz inteligente. Sua família tem muita estabilidade financeira e nenhuma emocional. No dia de sua formatura, o pai lhe oferece um carro novo e dá indícios de que tem vergonha do seu carro velho. É a gota d’água para Chris botar um mochilão nas costas, abrir mão do dinheiro que tem no banco e sair por aí sem dar satisfações a ninguém numa radicalíssima viagem de autoconhecimento.

A história de Chris McCandless é tão maluca que só poderia ser real. O filme acompanha, mesclando habilmente passado e presente, os dois anos que duraram essa inacreditável aventura. Tendo como objetivo viver em total isolamento nas terras geladas do Alasca e passando por diversas situações ao longo do caminho, a jornada de Chris – que, a determinada altura, assume o hilário codinome Alex Supertramp – não pode ser classificada como o mero delírio de um garotão que se encheu da vida de bacana. Sua viagem tem algo de bastante filosófico, não se resume a uma fútil tentativa de aumentar a adrenalina. Ele quer se afastar de uma vida de mentiras, pois se incorporar ao chamado american way of life, para ele, significa aceitar o legado de seus pais. É também uma celebração ao espírito “easy rider” tão em voga no final da década de 60 e que hoje parece enterrado para sempre nos corações americanos.

Mais um belíssimo trabalho de direção de Sean Penn (outro que vale conferir, num estilo bem diferente, é A Promessa), Na Natureza Selvagem conquista o espectador sem que ele se dê conta. Talvez porque induza a uma curiosa sensação de estar junto com Chris e – quem sabe – também fazendo algumas descobertas sobre nós mesmos ao longo do caminho. E, por incrível que pareça, ver Emile Hirsch onipresente na tela por duas horas e vinte minutos não é a tortura que se poderia esperar. Tudo bem que sua atuação não chega a ser para indicação ao SAG, como ocorreu, mas o que ele demonstra neste filme é um upgrade e tanto para quem costuma fazer coisas como Show de Vizinha. Agora se a mudança é fruto de amadurecimento artístico ou aconteceu graças à boa direção de Sean Penn é algo que só saberemos nos próximos filmes do rapaz.

Outro ponto alto é a trilha sonora, totalmente em harmonia com as belas tomadas de uma porção ainda selvagem dos Estados Unidos e também com as citações que Chris faz de vários autores rebeldes - como Thoreau e Jack London - nos quais se inspira para suas ações e também para seus escritos. A única ressalva que faço à produção é o fato de sua longa duração não ser necessária, já que existem algumas seqüências que poderiam ter passado por uma edição mais rigorosa ou até mesmo ter sido suprimidas. Um exemplo disso é um trecho que prenuncia um romance que não chega a se concretizar e nada acrescenta ao contexto geral.

Foi previsto inicialmente que Na Natureza Selvagem estrearia somente em São Paulo (o que de fato aconteceu há algumas semanas), mas os distribuidores voltaram atrás e resolveram lançá-lo também no Rio. Ainda bem. Este é um daqueles casos em que a tela grande e o som estéreo fazem toda diferença.

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