O americano Jack e a francesa Marion estão juntos há dois anos e se consideram um casal estável. Mas seu relacionamento será posto à prova quando, na volta de uma viagem à Itália, resolvem passar dois dias em Paris antes de retornar a Nova Iorque. É quando Jack é confrontado com um lado desconhecido de Marion: além da família assustadora e de hábitos bizarros e do fato dele não entender quase nada em francês, ainda há o duro teste de sobreviver ao encontro com incontáveis ex-namorados e um passado que até então ele ignorava.
Essa incursão da atriz Julie Delpy atrás das câmeras certamente remeterá o espectador a Cèline, sua personagem em Antes do Amanhecer e Antes do Pôr-do-Sol – vale lembrar que a atriz colaborou no roteiro deste último, assim como seu partner Ethan Hawke. Não faço essas comparações como uma crítica, muito pelo contrário. O longa de Julie tem identidade própria e, se considerarmos apenas o quesito humor, até supera Antes do Pôr-do-Sol. Mas é impossível não reconhecer o quanto o longa influenciou esse seu belo trabalho como cineasta, até mesmo pelo fato dela escolher, mais uma vez, uma história envolvendo um americano e uma francesa. E as diferenças entre eles, que aparentemente passavam despercebidas quando ambos se encontravam em solo americano, ganham uma nova dimensão na Cidade-Luz. Seria uma crítica velada da roteirista-diretora à baixa tolerância americana com os costumes alheios?
De qualquer modo, Julie toma o cuidado de não transparecer o irritante ar superior da maioria dos franceses e faz essas críticas de modo realmente engraçado e, por vezes, até comovente. E também coloca em xeque vários hábitos pouco lisonjeiros dos franceses, como o desleixo com higiene e o temperamento exageradamente passional. No final das contas, acaba sendo mais uma questão de relacionamento íntimo do que propriamente choque entre culturas. Adam Goldberg, sua cara-metade na telona, faz de seu Jack uma figura simpática, com a qual nos identificamos. Talvez por não ter uma imagem excessivamente ianque, ou seja, também fugir do estereótipo esperado. Memorável a hilária seqüência em que ele sacaneia turistas americanos que procuravam o Museu do Louvre com a justificativa "essas pessoas votam no Partido Republicano!". Outro momento que merece destaque é a curta porém hilária participação de Daniel Brühl, assim como as discussões em família e o motivo de pai de Marion odiar Jim Morrison.
Uma curiosidade: Julie Delpy – que já dirigiu anteriormente dois curtas e um longa, todos inéditos por aqui – escalou os próprios pais como intérpretes dos pais de sua personagem. Vamos ficar de olho nos próximos passos dessa moça e torcer para que a qualidade demonstrada em 2 Dias em Paris se repita em novas produções. O filme estréia sexta, dia 14.
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