26 de jan. de 2008

O Signo da Cidade


A astróloga Teca tem um programa de rádio noturno chamado O Signo da Cidade. Todas as noites, ela tem que lidar com os problemas de vários ouvintes solitários e desesperançados que telefonam em busca de uma solução para seus problemas. Tanto na rádio como nas consultas particulares em sua casa, as pessoas acabam transformando Teca numa espécie de terapeuta e confidente. Até que um acontecimento envolvendo um de seus clientes a leva a questionar até que ponto o que ela diz realmente interfere na vida das pessoas.

Embora Teca seja a personagem de ligação entre as várias tramas paralelas de O Signo da Cidade, a verdadeira protagonista do filme é a cidade de São Paulo. Isso fica evidente pela fotografia, pelas tomadas que não tentam esconder o lado feio e duro da metrópole, mas, por outro lado, buscam extrair certa poesia do concreto. Seguindo o estilo de filme-mosaico celebrizado por Robert Altman, o longa traça um painel do caldeirão de misturas da grande cidade. Tem de tudo um pouco: a mulher que quer se dar bem, o casal em crise, o transformista que sonha com o estrelato, os jovens desajustados, pai e filha com anos de mágoas a superar, desejo reprimido, acidentes, bala perdida, segredos, injustiças, romances que superam barreiras, alguns desfechos felizes, outros nem tanto. Os personagens, de uma forma ou outra, têm alguma ligação com Teca, embora as tramas não necessariamente estejam interligadas.

Os diálogos são naturais, transmitem verdade e fluem bem. Mesmo quando parece que a história tem uma mudança brusca demais, logo a seguir vem um diálogo ou situação que justifica o ocorrido. Um exemplo é a personagem Julia: sua transformação parece súbita demais, mas acaba se justificando por algo que ela diz. O único senão do roteiro é que em algumas passagens tem-se a impressão de que o excesso de personagens impede um maior aprofundamento nas suas histórias – que são todas bastante intensas. Nesse ponto, a competência de Bruna Lombardi como roteirista acabou por criar um impasse para ela mesma: se, por um lado, construiu tipos que cativam nosso interesse, por outro acabou não tendo espaço para se deter um pouco mais em cada uma das boas tramas que criou. Destaque para o núcleo envolvendo o pai de Teca e sua mãe adotiva. Aliás, a bela cena entre Juca de Oliveira e a enfermeira que atende seu último pedido merece aplausos por fugir dos padrões pré-estabelecidos.

A direção de Carlos Alberto Riccelli surpreende pela maturidade e segurança. Percebe-se um olhar carinhoso pelos personagens, por mais problemáticos que sejam. E essa atmosfera acaba fazendo com que o espectador também simpatize bastante com o longa. Confesso que não sabia bem o que esperar desse empreendimento familiar (o filho do casal, a cara do pai, também interpreta um dos papéis), mas Riccelli e Bruna provaram que sabiam o que estavam fazendo. O resultado é um trabalho elegante e sensível.

O Signo da Cidade está em cartaz em São Paulo desde ontem. Aqui no Rio, a previsão de estréia é para o dia 8 de fevereiro.

Ficha de O Signo da Cidade no Adoro Cinema

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