10 de fev. de 2008

Sweeney Todd


As primeiras menções a um certo barbeiro que mataria seus clientes e os transformaria em recheio de tortas remontam ao final do século XIV, na forma de uma balada francesa que as mães usavam para amedrontar filhos desobedientes – uma versão medieval do bicho-papão. Só em 1846 Sweeney Todd aparece por escrito, como personagem de um folhetim chamado The String of Pearls, a Romance, de Thomas Peckett Prest. Logo, o sangrento personagem ganha os palcos (e posteriormente também as telas) em diversas obras pouco conhecidas. Em 1973, Stephen Sondheim assiste, em Londres, à versão teatral mais famosa até então e imagina transformá-la num musical, ambição que realiza seis anos depois. E foi preciso que mais trinta anos se passassem até que o barbeiro demoníaco de Fleet Street ganhasse definitivamente o mundo pelas ousadas mãos de Tim Burton.

Em sua versão para a telona - que é calcada no musical de Sondheim -, o assassino ganha ares de herói trágico. Assim como o Conde de Monte Cristo, Sweeney Todd era um homem pacato até ter sua vida feliz destruída por uma condenação injusta. O motivo? O desejo de um juiz corrupto e poderoso por sua bela esposa. A história começa quando Todd, já transformado pelo desejo de vingança, retorna a Londres e trava amizade com a decadente Sra. Lovett que, esperançosa em conquistá-lo, se torna sua cúmplice.

A trama de Sweeney Todd casa tão bem com o estilo de Tim Burton que chega a ser difícil conceber que não seja uma história original. Que o filme seria primoroso em termos visuais ninguém tinha dúvidas. Mas parecia estranho pensar na junção de tão tenebrosa trama com o gênero musical, geralmente associado à leveza e beleza. Afinal de contas, trata-se de um musical regado a litros e litros de sangue. Sweeney Todd é um filme sombrio, sinistro, mergulhado em sangue e humor negro, mas, ao mesmo tempo, com ares operísticos e um exagero estético que torna toda aquela carnificina meio falsa (no bom sentido). O resultado é uma jóia barroca que só poderia mesmo ser dirigida por Burton e protagonizada por Johnny Depp. Muito bem coadjuvado, é claro, pela ótima Helena Bonham Carter (não por acaso a senhora Burton). Ou seja: todo o projeto está entre amigos e não poderia estar em melhores mãos. E não nos esqueçamos de que o elenco ainda dá conta de cantar, e muito bem. Destaque também para as criativas letras, em especial a que fala sobre a qualidade (ou falta dela) das tortas da Sra. Lovett.

Sweeney Todd foi indicado a três Oscars: ator, figurino e direção de arte. Uma ótima oportunidade de fazer justiça ao incrível Johnny Depp, que, além de compor seu personagem com a genialidade habitual, ainda se revelou um intérprete interessantíssimo também na parte musical. Por outro lado, é uma grande injustiça o longa ter ficado de fora das categorias melhor filme e direção. Ainda mais num ano que não é dos mais concorridos. Mais um capítulo da longa história da má-vontade da Academia com Tim Burton.

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