Eu me lembro bem da primeira vez que vi Cate Blanchett na tela. Foi em 1998, ao assistir a Elizabeth. Na época, fiquei igualmente impressionada com o talento e o que me pareceu uma incrível feiúra da atriz. Mas bastou que Cate aparecesse belíssima nas premiações para mostrar que a feiúra não passava de um excelente trabalho de caracterização. Ficou apenas o assombro com seu talento dramático que, aliás, continua me encantando até hoje. Sobre o primeiro Elizabeth, era um bom filme, ainda que Cate e sua hipnótica presença sempre tenham sido maiores que ele. Nove anos e um Oscar depois (por O Aviador), a atriz volta a encarnar a mítica rainha inglesa em Elizabeth – A Era de Ouro.
Esta segunda parte da trilogia que o diretor Shekhar Kapur pretende realizar enfoca o período intermediário do longo reinado da chamada “Rainha Virgem”. O ano é 1585 e Elizabeth está há quase três décadas no trono quando atrai a ira e ganância do poderoso rei espanhol Felipe II. Católico fanático e devoto dos terrores da Inquisição, Felipe anseia por conquistar a Inglaterra, destronar a protestante Elizabeth e colocar em seu lugar a católica Mary Stuart, rainha da Escócia - além de prima e prisioneira de Elizabeth.
Enquanto se concentra no lado histórico e das intrigas palacianas, Elizabeth até consegue ser um filme interessante. Não apenas por mostrar os meandros do jogo político e da alta traição, mas também pelo modo como a rainha e seu conselheiro, Sir Francis Walsingham, realizam uma espécie de marketing político e torcem a seu favor o fato dela nunca ter se casado nem gerado um herdeiro, habilmente transformando a (suposta) castidade em santidade e dando-lhe uma aura divina.
O grande problema é quando, a certa altura, o filme centra seu poder de fogo no triângulo amoroso formado pelo aventureiro Sir Walter Raleigh, Elizabeth e sua dama de companhia preferida (aliás, o início do filme parece sugerir uma atração entre as duas que não se concretiza). Aí o filme vira novelão mesmo, com direito a ceninhas de ciúme e diálogos inacreditáveis. Nesta segunda metade, a fragilidade do roteiro ajuda a evidenciar ainda mais certos exageros que já estavam ocorrendo, como cenas alongadas muito além do necessário ou seqüências inteiras que nada acrescentam à trama e que parecem ter sido rodadas apenas para exibir a bela fotografia. Sem contar a irritante trilha sonora grandiloqüente, com direito até a violinos sublinhando a morte de um personagem.
Um bom exemplo dessa gratuidade visual está na cena em que Elizabeth aparece à frente de seu exército usando peruca de guerra. Eu explico: ao longo do filme vemos que ela tem cabelos quase tosados (e piolhos) e usa aquelas perucas elaboradas para aparecer na corte. OK. Normal. Mas, mesmo frisando bem este detalhe em inúmeras cenas, quando ela surge à frente do exército está usando armadura e longuíssimos cabelos ruivos ao vento. Por que alguém se vestiria para a guerra de armadura e peruca? Certamente a hair stylist argumentaria que a rainha queria se mostrar bela para os soldados, mas tal desvario só faz o espectador lembrar das rainhas de bateria.
Esse artificialismo pontua todo o filme, mas tudo fica mais incômodo à medida que a trama avança e vai deixando pontas soltas em vários aspectos importantes do lado histórico para se concentrar nos delírios estéticos. Vários assuntos explorados antes perdem importância subitamente, como a revolta interna dos católicos ingleses. Os revoltosos simplesmente desistiram diante da queda de Mary Stuart? Sem contar a batalha no mar, que parece se resolver sem muito esforço. O que não combina muito com uma cena anterior que mostra o poderio esmagador da armada espanhola. Mas, em vez de amarrar esses nós, o diretor prefere anestesiar o espectador com tomadas estonteantes, em que Elizabeth é vista por ângulos privilegiados e iluminada como se fosse o próprio astro-rei.
Claro que Cate Blanchett está, mais uma vez, muito bem no papel. Mas até mesmo esse ponto positivo parece levar esta seqüência a um patamar inferior ao do primeiro filme, já que é uma continuação do mesmo papel e, portanto, a ótima interpretação de Cate como Elizabeth não chega a ser uma novidade. O filme concorre a dois Oscars: melhor atriz e figurino (se levar o segundo, tá no lucro).
Elizabeth – A Era de Ouro é como um falso brilhante: belo e fascinante à primeira vista, mas não resiste a um exame mais cuidadoso.
Ficha de Elizabeth – A Era de Ouro no Adoro Cinema
Esta segunda parte da trilogia que o diretor Shekhar Kapur pretende realizar enfoca o período intermediário do longo reinado da chamada “Rainha Virgem”. O ano é 1585 e Elizabeth está há quase três décadas no trono quando atrai a ira e ganância do poderoso rei espanhol Felipe II. Católico fanático e devoto dos terrores da Inquisição, Felipe anseia por conquistar a Inglaterra, destronar a protestante Elizabeth e colocar em seu lugar a católica Mary Stuart, rainha da Escócia - além de prima e prisioneira de Elizabeth.
Enquanto se concentra no lado histórico e das intrigas palacianas, Elizabeth até consegue ser um filme interessante. Não apenas por mostrar os meandros do jogo político e da alta traição, mas também pelo modo como a rainha e seu conselheiro, Sir Francis Walsingham, realizam uma espécie de marketing político e torcem a seu favor o fato dela nunca ter se casado nem gerado um herdeiro, habilmente transformando a (suposta) castidade em santidade e dando-lhe uma aura divina.
O grande problema é quando, a certa altura, o filme centra seu poder de fogo no triângulo amoroso formado pelo aventureiro Sir Walter Raleigh, Elizabeth e sua dama de companhia preferida (aliás, o início do filme parece sugerir uma atração entre as duas que não se concretiza). Aí o filme vira novelão mesmo, com direito a ceninhas de ciúme e diálogos inacreditáveis. Nesta segunda metade, a fragilidade do roteiro ajuda a evidenciar ainda mais certos exageros que já estavam ocorrendo, como cenas alongadas muito além do necessário ou seqüências inteiras que nada acrescentam à trama e que parecem ter sido rodadas apenas para exibir a bela fotografia. Sem contar a irritante trilha sonora grandiloqüente, com direito até a violinos sublinhando a morte de um personagem.
Um bom exemplo dessa gratuidade visual está na cena em que Elizabeth aparece à frente de seu exército usando peruca de guerra. Eu explico: ao longo do filme vemos que ela tem cabelos quase tosados (e piolhos) e usa aquelas perucas elaboradas para aparecer na corte. OK. Normal. Mas, mesmo frisando bem este detalhe em inúmeras cenas, quando ela surge à frente do exército está usando armadura e longuíssimos cabelos ruivos ao vento. Por que alguém se vestiria para a guerra de armadura e peruca? Certamente a hair stylist argumentaria que a rainha queria se mostrar bela para os soldados, mas tal desvario só faz o espectador lembrar das rainhas de bateria.
Esse artificialismo pontua todo o filme, mas tudo fica mais incômodo à medida que a trama avança e vai deixando pontas soltas em vários aspectos importantes do lado histórico para se concentrar nos delírios estéticos. Vários assuntos explorados antes perdem importância subitamente, como a revolta interna dos católicos ingleses. Os revoltosos simplesmente desistiram diante da queda de Mary Stuart? Sem contar a batalha no mar, que parece se resolver sem muito esforço. O que não combina muito com uma cena anterior que mostra o poderio esmagador da armada espanhola. Mas, em vez de amarrar esses nós, o diretor prefere anestesiar o espectador com tomadas estonteantes, em que Elizabeth é vista por ângulos privilegiados e iluminada como se fosse o próprio astro-rei.
Claro que Cate Blanchett está, mais uma vez, muito bem no papel. Mas até mesmo esse ponto positivo parece levar esta seqüência a um patamar inferior ao do primeiro filme, já que é uma continuação do mesmo papel e, portanto, a ótima interpretação de Cate como Elizabeth não chega a ser uma novidade. O filme concorre a dois Oscars: melhor atriz e figurino (se levar o segundo, tá no lucro).
Elizabeth – A Era de Ouro é como um falso brilhante: belo e fascinante à primeira vista, mas não resiste a um exame mais cuidadoso.
Ficha de Elizabeth – A Era de Ouro no Adoro Cinema
Um comentário:
Eu achei a direção de arte do filme bastante interessante. E no primeiro filme Elizabeth mostrava uma mulher que estava começando a ver o encargo que teria pela frente como rainha, tendo que deixar de lado muito da sua vida pessoal. Gostei que nesse segundo filme tenham feito esse paralelo, de que todos temos várias faces, e ela optou ser a rainha da inglaterra, e deixou de viver os amores, a vida pessoal e isso a chocou, e viveu nesse filme e mostrou essa dor e ao mesmo tempo a força que tinha que estar acima de tudo para ser uma governante. Achei ela mais humana, com suas brigas internas mais expostas, embora aos olhos de muitos possa ter parecido dramalhões, eram explosões que segura pelas escolhas e opções de vida que teve que aceitar onde e como nasceu e o que lhe foi legado.
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