30 de mar. de 2008

Correndo com Tesouras


Com o circuito de cinema sem grandes atrativos, o jeito é recorrer à boa e velha locadora. E nela fui desencalhar um filme de apenas 2 anos atrás, indicado ao Globo de Ouro mas que jamais foi lançado nos cinemas brasileiros: Correndo com Tesouras. Bom filme, mas vendido de forma equivocada.

Está lá na contracapa do DVD: "uma diabolicamente divertida, corajosa e emocionante história sobre como sobreviver a uma infância nada convencional". O que me chamou a atenção foi o "diabolicamente". Como isto poderia se aplicar em um filme? Humor negro, talvez? Não sei, pensei. Aluguei e, literalmente, paguei para ver.

Para começar, não se trata de uma comédia. Um erro que tem se tornado corriqueiro no Globo de Ouro, vide os casos de O Mundo de Andy, Ray, Piaf e Jogos do Poder. Mas isto é o de menos. O filme aborda a história - real, por mais incrível que possa parecer - de Augusten Burroughs, que antes de completar 15 anos tinha sido abandonado pelos pais e vivia com a família do psicólogo de sua mãe.

A surrealidade de como foi a vida de Augusten impressiona, chamando a atenção para um conflito bastante atual para os pais: como medir a liberdade e a repressão na criação dos filhos. Augusten teve a vida que muitos sonharam para si: liberdade total, sem a necessidade de ir à escola e tendo condições de fazer o que queria desde muito cedo. As distorções provocadas por tal educação, tanto para o bem quanto para o mal, são nítidas. É claro que tudo se torna ainda mais drástico ao constatar como era a família Finch, repleta de personagens incomuns e bizarrices. Mas, mesmo antes de Augusten passar a viver com eles, estas distorções são perceptíveis. Ou seja, a situação ampliou os efeitos mas eles já estavam lá. Ver a repressão extrema é de certa forma comum no cinema, mas não a liberdade extrema. Ainda mais aplicada numa situação que, vale a pena ressaltar, é verídica.

De certa forma Correndo com Tesouras lembra os filmes de Wes Anderson, por colocar seus personagens em situações insólitas e excêntricas. Entretanto o mais importante do filme é mostrar que não existem fórmulas exatas para se obter sucesso ou fracasso, algo que depende muito mais do modo como cada um lida com as adversidades que a vida apresenta. Bom filme, mas que definitivamente está longe de ser uma comédia.

Ficha de Correndo com Tesouras no Adoro Cinema

Período pós-Oscar

O calendário de cinema no Brasil costuma seguir uma certa lógica. Janeiro é o mês dos filmes de férias - infantis, comédias e aventuras -, para aproveitar o tempo livre da criançada e dos adolescentes. Ainda neste mês começam a despontar os candidatos ao Oscar, que apenas chegam em peso em fevereiro. A idéia é explorar a expectativa com a cerimônia de entrega do Oscar, que nos últimos anos tem sempre ocorrido na última semana deste mês.

Março e abril são meses sem grandes atrativos para os cinéfilos. Não que bons filmes não estréiem neste período, não é isso. Mas boa parte das estréias é formada por filmes médios e pequenos, ou ainda aqueles que estavam encalhados nas prateleiras das distribuidoras à espera de uma brecha no calendário. A cada "A Família Savage" ou Na Natureza Selvagem há diversos outros que não animam a ida ao cinema. O resultado é o que temos visto ultimamente: estréias de até 10 filmes a cada sexta, mas a grande maioria permanecendo pouquíssimo tempo em cartaz. Justamente pelo pouco interesse que provocam no espectador.

Este hiato de bons lançamentos é tradicional, mas neste ano a situação está complicada. Está difícil encontrar algo minimamente atraente ao ver a programação do circuito. E ao conferir os lançamentos das próximas semanas poucos são os filmes que despertam alguma atenção: Estômago, "Charlie Bartlett", "Quebrando a Banca"... e só.

Que os ares pessimistas não se confirmem e surpresas apareçam nas telas de cinema. Ou teremos ainda uma boa espera para que os filmes mais aguardados do ano, como o novo Indiana Jones, cheguem até nós.

28 de mar. de 2008

10.000 A.C.


Roland Emmerich é especialista em destruir Nova York. Visto por este ângulo, 10.000 A.C. é uma novidade em sua carreira - ou nem tanto, já que como a história ocorre em um passado remoto o local onde tudo acontece pode muito bem ser a atual Nova York. Brincadeira a parte, o fato é que o filme é muito ruim. Daqueles que desde já surgem como forte candidato ao topo da lista dos piores do ano.

Trata-se de uma espécie de Apocalypto sem criatividade, sem originalidade. A história é parecida: tribo vive em paz até ser atacada por um povo bárbaro, que leva consigo alguns de seus habitantes. O herói parte em busca da mocinha, decidido a enfrentar todos os perigos e resgatá-la. Se o filme de Mel Gibson buscava situar a história num contexto verídico, a decadência do império maia, aqui tudo é falso. Desde as locações, que misturam numa proximidade impressionante montanhas glaciais com florestas úmidas e desertos escaldantes, até a co-existência de mamutes, tigres dente-de-sabre e seres humanos. Ou seja, de antemão já se assume que nada daquilo tem alguma coerência, ao menos pelo lado histórico.

Mas, mesmo com esta decisão, poderia se esperar um bom filme-pipoca. Descerebrado, com boas cenas de ação, daqueles que divertem mesmo com os maiores absurdos em cena. 10.000 A.C. também decepciona nisto. Utiliza fórmulas clichês para tentar criar tensão e abusa de diálogos risíveis. Em um deles o herói, D'Leh, diz ao tigre dente-de-sabre: "não me coma após salvar sua vida", em um tom de súplica. É, o herói pede ao tigre que permaneça vivo, numa simples conversa. E funciona. Isto dá bem o tom do que é o filme: um desastre.

Ficha de 10.000 A.C. no Adoro Cinema

Despedida

Caros leitores,
Após cinco anos de parceria, estou deixando o Adoro Cinema. Novos rumos pessoais e profissionais fazem com que eu me despeça aqui de vocês. Como já diziam os sábios budistas, "a única constante da vida é a impermanência". Foi ótimo receber as mensagens, dicas e até mesmo puxões de orelha de vocês. Aos que quiserem continuar a conversa, não apenas sobre cinema, mas também sobre as outras expressões de arte, deixo o endereço do meu recém-criado blog pessoal: http://artesesubversao.blogspot.com/
Um grande abraço e que "a Força esteja com vocês!"

27 de mar. de 2008

Almodóvar On Line

Pedro Almodóvar está prestes a rodar um novo filme, intitulado Los Abrazos Rotos (Os Abraços Partidos, título quase homônimo ao do filme argentino). A exemplo do que já havia feito por ocasião das filmagens de Volver, Almodóvar acaba de colocar na internet um blog, onde ele pretende não apenas relatar a rotina de cada etapa da criação do longa, como também comentar fatos do dia-a-dia, livros que o estão influenciando, estados de espírito, etc. O texto é escrito em forma de diário. Também estão disponíveis várias fotos de ensaios, leituras e até mesmo do próprio Almodóvar escrevendo. Los Abrazos Rotos tem no elenco, mais uma vez, Penélope Cruz e Blanca Portillo.



26 de mar. de 2008

Atos que Desafiam a Morte


Arrasado pela morte da mãe, o famoso mágico Harry Houdini aproveita uma de suas turnês para lançar um desafio: está disposto a dar um prêmio de dez mil dólares a quem lhe fornecer uma prova definitiva da existência de vida após a morte. Para tanto, bola um plano que considera à prova de falcatruas: será o vencedor aquele que adivinhar as últimas palavras de sua falecida mãe, ouvidas apenas por ele próprio. Mary McGarvie é uma sedutora médium de araque que, junto com a filha Benji, está disposta a tentar enganar o maior dos ilusionistas com seus encantos.

O filme se utiliza parcialmente da vida real de Harry Houdini para criar seu roteiro. Os dados biográficos sobre a infância pobre do mágico, bem como sobre sua incrível resistência pulmonar e sua habilidade com cadeados e correntes são verdadeiros. Aliás, foi justamente por essas particularidades que ele ficou tão famoso. Tanto que até hoje ninguém conseguiu desvendar seus truques por completo, mesmo tendo ele deixado boa parte de seus segredos registrados em um livro.

A trama é ambientada em 1926, mesmo ano da morte de Houdini, então com 52 anos. A primeira coisa a chamar atenção é que, mesmo com aquela peruca esquisita, o ator Guy Pearce parece ter no máximo quarenta. Sua atuação é sem vida e burocrática, como se tivesse feito o filme apenas para embolsar um dinheirinho extra. Aliás, desde Amnésia o sujeito não faz um filme decente. Já sua partner Catherine Zeta-Jones está, mais uma vez, fazendo o papel de mulher bonita. E só. O único sopro de vida no elenco – que ainda conta com um apático Timothy Spall – é a garotinha Saoirse Ronan. Revelada no papel da menina ciumenta que detona toda a trama de Desejo e Reparação – o que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de atriz coadjuvante –, Saoirse demonstra uma segurança em cena de fazer inveja a muito ator adulto.

No geral, Atos que Desafiam a Morte é um filme previsível e chato. Não se decide a enveredar por nenhum dos caminhos que insinua e se arrasta superficialmente por todos. E olha que o que não faltam são temas abordados: desde a questão da ética da profissão de ilusionista até o debate sobre vida após a morte, passando pelo romance entre Houdini e a aparentemente fictícia Mary McGarvie, todas as situações são jogadas na trama apenas de passagem. O filme não se propõe a ser uma biografia de Houdini, mas tampouco abraça com liberdade o terreno da ficção – como faz, por exemplo, Shakespeare Apaixonado.

A diretora Gillian Armstrong tem como trabalho mais famoso o drama familiar Adoráveis Mulheres, de 1994. Depois disso, realizou o bom Oscar e Lucinda e o ruinzinho Charlotte Gray. E para piorar a situação de Atos que Desafiam a Morte, não podemos nos esquecer de que o tema ilusionismo foi abordado recentemente em dois outros filmes: O Ilusionista e O Grande Truque. Embora nenhum dos dois chegue a ser um primor, são muito superiores.

20 de mar. de 2008

Frase do Dia


"Se a vítima estiver armada, sabe quem vai tomar o pipoco?"
(a nada ortodoxa juíza Luciana Fiala advertindo um menor infrator no documentário Juízo)

19 de mar. de 2008

Um Amor de Tesouro


Meu primeiro impulso ao assistir a Um Amor de Tesouro foi fazer algum trocadilho infame com seu título original, Fool’s Gold (Ouro de Tolo). Mas isso não seria muito justo, afinal de contas o filme não pretende ser mais do que aparenta. E creiam-me: isso não é um elogio. O que temos é um misto de comédia romântica com aventura, repleto de situações absurdas e cujo roteiro é mais direcionado para mostrar seus protagonistas em belas tomadas do que propriamente fazer algum sentido. Todas as fichas são apostadas na boa química entre os astros Kate Hudson e Matthew McConaughey – um dia ainda aprendo a pronunciar o sobrenome dele. Não se pode negar que os dois funcionam em cena, mas até isso já foi explorado com mais habilidade em Como Perder um Homem em 10 Dias.

Matthew vive o personagem de sempre: um sujeito meio malandro e irresponsável, porém de bom coração. E que também não perde uma chance de aparecer com os músculos à mostra (faria o maior sucesso nas novelas de certo autor brasileiro). Eu me pergunto que tipo de papel o ator fará quando ficar mais velho. No filme, o personagem é um caçador de tesouros que, de tanto se meter em roubadas, encheu a paciência da ex-esposa e ex-sócia, que agora só quer uma vida sem sobressaltos. Mas é claro que o sarado aventureiro finalmente descobre uma pista de sua obsessão particular: um lendário galeão espanhol que teria afundado por ali repleto de tesouros há quase trezentos anos. Como não poderia deixar de ser, o casal, ainda apaixonado, se une novamente em torno do objetivo em comum e é perseguido por rivais nada escrupulosos.

O filme alterna previsibilidade e implausibilidade, compilando de uma só vez todos os clichês dos dois gêneros que tenta abarcar. O roteiro se dobra ao esquema de uma sorte quase mediúnica norteando as atitudes dos mocinhos e uma burrice congênita afetando todos os vilões. Uma cena logo no início exemplifica bem isso: um dos desafetos do protagonista manda matá-lo e seus capangas, apesar de armados, têm o maior trabalho para tentar afogar o cara ao invés de simplesmente dar-lhe um tiro. Além da estupidez dos homens maus, ainda tem a típica menina rica, fútil e burra como contraponto à descolada e esperta personagem de Kate Hudson - pelo menos dessa vez a loura é inteligente e a morena, burra.

Está achando que já viu isso antes? Viu sim, caro leitor. Muita coisa parecida em filmes melhores. Essa temporada pós Oscar é mesmo uma fase difícil para a sétima arte... Para quem estiver disposto a encarar, Um Amor de Tesouro (que péssimo, esse título!) tem pré-estréias a partir de hoje.

16 de mar. de 2008

Na Natureza Selvagem


“Eu fui à floresta porque queria viver intensamente e sugar toda a essência da vida, e arrancar de mim tudo que não fosse vida. Para mais tarde, ao morrer, não descobrir que não havia vivido.”

A máxima acima de Henry David Thoreau, embora não tenha sido citada textualmente ao longo de Na Natureza Selvagem, é a idéia que norteia seu protagonista. Christopher McCandless acaba de se formar. É um rapaz inteligente. Sua família tem muita estabilidade financeira e nenhuma emocional. No dia de sua formatura, o pai lhe oferece um carro novo e dá indícios de que tem vergonha do seu carro velho. É a gota d’água para Chris botar um mochilão nas costas, abrir mão do dinheiro que tem no banco e sair por aí sem dar satisfações a ninguém numa radicalíssima viagem de autoconhecimento.

A história de Chris McCandless é tão maluca que só poderia ser real. O filme acompanha, mesclando habilmente passado e presente, os dois anos que duraram essa inacreditável aventura. Tendo como objetivo viver em total isolamento nas terras geladas do Alasca e passando por diversas situações ao longo do caminho, a jornada de Chris – que, a determinada altura, assume o hilário codinome Alex Supertramp – não pode ser classificada como o mero delírio de um garotão que se encheu da vida de bacana. Sua viagem tem algo de bastante filosófico, não se resume a uma fútil tentativa de aumentar a adrenalina. Ele quer se afastar de uma vida de mentiras, pois se incorporar ao chamado american way of life, para ele, significa aceitar o legado de seus pais. É também uma celebração ao espírito “easy rider” tão em voga no final da década de 60 e que hoje parece enterrado para sempre nos corações americanos.

Mais um belíssimo trabalho de direção de Sean Penn (outro que vale conferir, num estilo bem diferente, é A Promessa), Na Natureza Selvagem conquista o espectador sem que ele se dê conta. Talvez porque induza a uma curiosa sensação de estar junto com Chris e – quem sabe – também fazendo algumas descobertas sobre nós mesmos ao longo do caminho. E, por incrível que pareça, ver Emile Hirsch onipresente na tela por duas horas e vinte minutos não é a tortura que se poderia esperar. Tudo bem que sua atuação não chega a ser para indicação ao SAG, como ocorreu, mas o que ele demonstra neste filme é um upgrade e tanto para quem costuma fazer coisas como Show de Vizinha. Agora se a mudança é fruto de amadurecimento artístico ou aconteceu graças à boa direção de Sean Penn é algo que só saberemos nos próximos filmes do rapaz.

Outro ponto alto é a trilha sonora, totalmente em harmonia com as belas tomadas de uma porção ainda selvagem dos Estados Unidos e também com as citações que Chris faz de vários autores rebeldes - como Thoreau e Jack London - nos quais se inspira para suas ações e também para seus escritos. A única ressalva que faço à produção é o fato de sua longa duração não ser necessária, já que existem algumas seqüências que poderiam ter passado por uma edição mais rigorosa ou até mesmo ter sido suprimidas. Um exemplo disso é um trecho que prenuncia um romance que não chega a se concretizar e nada acrescenta ao contexto geral.

Foi previsto inicialmente que Na Natureza Selvagem estrearia somente em São Paulo (o que de fato aconteceu há algumas semanas), mas os distribuidores voltaram atrás e resolveram lançá-lo também no Rio. Ainda bem. Este é um daqueles casos em que a tela grande e o som estéreo fazem toda diferença.

12 de mar. de 2008

Grande Prêmio Vivo do Cinema Brasileiro


Foi anunciado hoje em coletiva realizada no cinema Estação Gávea, no Rio de Janeiro, os indicados ao Grande Prêmio Vivo do Cinema Brasileiro 2008. E os filmes mais lembrados, como já era esperado, foram os dois que disputaram de forma mais aguerrida a indicação do país ao Oscar de filme estrangeiro deste ano: O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias e Tropa de Elite, cada um com 13 indicações. O Céu de Suely (11 indicações), O Cheiro do Ralo (também 11) e Baixio das Bestas (6) completam a lista de indicados a melhor filme.

Assim como aconteceu na última edição, neste ano o período abrangente da premiação é de 1 ano e meio, ou seja, disputam os filmes nacionais lançados em circuito entre 1º de julho de 2006 e 31 de dezembro de 2007. O motivo é a não realização da premiação em 2006, que fez com que surgisse este hiato entre os premiados. A previsão é que a partir do ano que vem a situação retorne à normalidade, com a cerimônia ocorrendo sempre no mês de março.

O presidente da Academia Brasileira de Cinema, o diretor Roberto Farias, anunciou as novidades desta premiação em relação às edições anteriores. Três novas categorias foram adicionadas: filme de animação, efeitos especiais e edição de documentários. Serão ao todo 23 categorias em disputa, com os vencedores recebendo o inédito Troféu Grande Otelo (à esquerda), criado pelo designer João Uchoa. A votação entre os integrantes da Academia ocorrerá entre 14 de março e 2 de abril, com o resultado sendo apenas divulgado na cerimônia de entrega da premiação.

Outras novidades foram a criação do Prêmio Especial de Preservação, que visa dar destaque à necessidade de preservação da memória do cinema nacional, e a escolha de Renato Aragão como homenageado deste ano, em reconhecimento à sua carreira no cinema. Foram também criadas três categorias especiais, nas quais o público poderá participar e eleger seu indicado preferido: melhor filme de ficção nacional, melhor filme de ficção estrangeiro e melhor filme feito para celular. Para participar os interessados devem votar por SMS ou através do site da Academia, http://www.academiabrasileiradecinema.com.br/ .

A cerimônia do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2008 ocorrerá em 15 de abril, no Vivo Rio. Os vencedores, é claro, você poderá conferir aqui mesmo no Adoro Cinema.

Confira os indicados à premiação

11 de mar. de 2008

Sicko - S.O.S. Saúde


O provocador Michael Moore está de volta. Depois de investigar a fascinação dos americanos por armas de fogo em Tiros em Columbine e cutucar o governo Bush em Fahrenheit 11 de Setembro, o mais polêmico dos documentaristas agora coloca na berlinda o precário sistema de saúde de seu país. A partir de depoimentos de pessoas que tiveram suas vidas arrasadas pelo perverso esquema dos planos de saúde (não existe saúde pública nos EUA), Moore expõe as vísceras de um sistema pautado pelo lucro a qualquer preço. E, pior, com a benevolência do governo. Uma vez traçado o painel da caríssima saúde privada americana, o cineasta faz um levantamento de como funcionam as coisas em países onde o sistema de saúde é estatal e, portanto, gratuito. Moore visita Canadá (aliás, seu país comparativo por excelência), Inglaterra, França e até mesmo Cuba.

Michael Moore sempre dividiu opiniões. Os que se identificam com o seu estilo cara-de-pau costumam gostar de todos os seus filmes. Já os que o consideram um farsante geralmente detestam sua obra por completo. É claro que Moore é tendencioso em seus documentários e está longe de ser um observador imparcial do que denuncia, mas, por outro lado, é preciso considerar os objetos de suas denúncias. Indústria bélica, governo Bush, sistema de saúde… Ou seja, inegáveis escroques. E Moore faz esses caras de palhaços, torce suas declarações, os persegue com suas perguntas indiscretas. E se ele se excede aqui ou ali… Bom, é muito divertido quando isso acontece.

SOS Saúde está longe de ser muito barulho por nada. Podemos dizer que o sistema americano de saúde consegue ser tão ruim – ou pior – que o brasileiro. Funcionários orientados a buscar brechas para lesar o associado, a ponto de uma empresa ter um bônus oficial para o examinador que negar mais solicitações. Pessoas endividadas porque tiveram o azar de ficar doentes. Pessoas mortas antes que a burocracia se resolva. E até mesmo um hospital com um inventivo método de expulsão de pacientes que não têm como pagar pela internação. Um circo de horrores. Apelativo? Não. Revoltante.

Depois de enumerar as canalhices das empresas americanas, o filme fica ainda mais pungente quando compara tais perversões com a eficiência humanitária de países onde o governo arca com esses custos. Os canadenses, ali do lado, com seus hospitais totalmente gratuitos, têm verdadeiro pavor de ir aos Estados Unidos e precisar de atendimento médico. Franceses e ingleses idem. Mas a comparação mais irônica e provocante é feita com os demonizados cubanos. Uma das imagens mais impactantes é a da mulher americana que chora de indignação quando descobre que o remédio pelo qual paga religiosamente U$ 120 em seu país custa o equivalente a cinco centavos em qualquer farmácia cubana.

Além da denúncia aos interesses corporativos e da omissão – ou corrupção - governamental, SOS Saúde também é uma sátira corrosiva. Michael Moore tem um talento especial para mesclar suas denúncias com um humor anárquico e uma edição de imagens genial. Simplesmente imperdível.

SOS Saúde (Sicko), de Michael Moore, EUA, 2007. 123’ (LEP)

Mostra Panorama

Nota: 9,0

Ficha no Adoro Cinema

Texto publicado originalmente em 02/10/07, durante a cobertura do Festival do Rio.

10 de mar. de 2008

O Orfanato


Laura se muda com o marido Carlos e o filho Simón para o casarão onde funcionava o orfanato onde foi criada até os sete anos, quando foi adotada. Seu objetivo é fazer do local uma casa destinada a cuidar de crianças especiais, mas, antes que realize seu intento, percebe estranhas mudanças no comportamento de Simón e, aos poucos, compreende que o local guarda mistérios que remontam ao tempo em que ela ali vivia.

O Orfanato chegou às telas brasileiras laureado por nada menos que sete prêmios Goya, incluindo os de melhor diretor estreante e melhor roteiro, e a chancela de ter sido o representante espanhol ao Oscar 2008 de melhor filme estrangeiro. Somando esse oba-oba ao fato do longa ser produzido pelo competente Guillermo Del Toro, a expectativa em torno do filme não poderia ser pequena. Infelizmente, é um clássico exemplo de muito barulho por nada. Ou por muito pouco.

O filme impressiona bem a princípio. Lembra bastante o estilo do padrinho Del Toro, especialmente A Espinha do Diabo. Boa fotografia, história de suspense clássica, direção de arte bacana. Tudo conspira para criar momentos assustadores e o espectador, envolvido, quer saber para onde vai essa história de terror com ares de conto de fadas. Enfim, o filme promete. Como é possível que, em sua meia hora final, ponha tudo a perder?

O roteiro, que parecia guardar suas fichas para a resolução do filme, deixa a história cheia de pontas soltas e se limita a criar pequenas reviravoltas que não convencem muito. A partir do momento em que a médium interpretada por Geraldine Chaplin visita a casa – numa imitação débil da Tangina de Poltergeist – o filme desanda de vez e não consegue tomar pé da situação novamente. A seqüência em que Laura recria o orfanato tal qual em sua infância chega a constranger. E o desfecho simplesmente não satisfaz. Não posso detalhar mais sob o risco de transformar esse texto num "spoiler", ainda mais por se tratar de uma história de suspense, mas creiam-me: existe algo de muito errado num filme de suspense quando vários espectadores riem (sim, eu ouvi risos em algumas cenas) ao invés de ficarem nervosos.

Rambo 4


Quando um astro começa a emplacar uma série de fracassos é a hora exata de tirar da gaveta aquela seqüência de seu personagem de maior sucesso. Exemplos disto há aos montes: Schwarzenegger com O Exterminador do Futuro 3, Bruce Willis com Duro de Matar 4, Harrison Ford com o novo Indiana Jones... No caso de Rambo 4 a história é um pouco diferente. Este é um filme que apenas existe graças ao sucesso de outra continuação estrelada por Sylvester Stallone: Rocky Balboa. Sucesso merecido, diga-se de passagem. Porém, como nem tudo é só alegria, o 6º Rocky permitiu que este Rambo 4 exista. Infelizmente.

John Rambo é um personagem mítico, um ícone do cinema dos anos 80, onde o "exército de um homem só" era suficiente para estrelar a grande maioria dos filmes de ação. Trazê-lo de volta serviria para ao menos atrair o público que cresceu assistindo seus filmes, que brincou com as clássicas faca e bandana na infância. Mas um filme não deve apenas apostar na memória de seu público para se sustentar. Precisa buscar uma boa história, ter qualidades, convencer o espectador de que seu retorno não é apenas com o objetivo de tilintar as máquinas registradoras, por mais que os indícios apontem o contrário. Em todos estes aspectos, Rambo 4 fracassa de forma estrondosa.

Fracassa por ser este um filme preguiçoso, que abusa de diversos clichês. A começar pelos vilões. Desde o 1º minuto não há dúvida alguma de que eles merecem morrer, pela carnificina e brincadeiras sádicas que realizam. Stallone, que dirige e também assina o roteiro, não buscou dar muito sentido a tudo que é visto em cena. Sabe-se que tem uma guerra civil nos confins da Ásia, que os vilões são extremamente cruéis, que uma equipe de resgate foi formada sabe-se lá como... Como tudo isto acontece não importa muito, já que é mero pano de fundo para que Rambo entre em ação. O que só acontece de vez lá pela 2ª metade do filme, diga-se de passagem. Ou seja, a grande desculpa do filme é ver Rambo em atividade, mas o próprio Rambo não aparece tanto. Terá sido o peso da idade do já sessentão Stallone?

Rambo 4 é um filme ruim, mesmo entre os similares de seu gênero. Se não fosse John Rambo seu personagem principal com absoluta certeza seria relegado ao esquecimento nas locadoras. Mas, como Rambo é ícone e Stallone ganhou sobrevida após Rocky Balboa, eis o filme nas salas de cinema. O que leva a pensar, com um certo temor, no que virá a seguir. "Stallone Cobra 2"?

Ficha de Rambo 4 no Adoro Cinema

9 de mar. de 2008

2 Dias em Paris


O americano Jack e a francesa Marion estão juntos há dois anos e se consideram um casal estável. Mas seu relacionamento será posto à prova quando, na volta de uma viagem à Itália, resolvem passar dois dias em Paris antes de retornar a Nova Iorque. É quando Jack é confrontado com um lado desconhecido de Marion: além da família assustadora e de hábitos bizarros e do fato dele não entender quase nada em francês, ainda há o duro teste de sobreviver ao encontro com incontáveis ex-namorados e um passado que até então ele ignorava.

Essa incursão da atriz Julie Delpy atrás das câmeras certamente remeterá o espectador a Cèline, sua personagem em Antes do Amanhecer e Antes do Pôr-do-Sol – vale lembrar que a atriz colaborou no roteiro deste último, assim como seu partner Ethan Hawke. Não faço essas comparações como uma crítica, muito pelo contrário. O longa de Julie tem identidade própria e, se considerarmos apenas o quesito humor, até supera Antes do Pôr-do-Sol. Mas é impossível não reconhecer o quanto o longa influenciou esse seu belo trabalho como cineasta, até mesmo pelo fato dela escolher, mais uma vez, uma história envolvendo um americano e uma francesa. E as diferenças entre eles, que aparentemente passavam despercebidas quando ambos se encontravam em solo americano, ganham uma nova dimensão na Cidade-Luz. Seria uma crítica velada da roteirista-diretora à baixa tolerância americana com os costumes alheios?

De qualquer modo, Julie toma o cuidado de não transparecer o irritante ar superior da maioria dos franceses e faz essas críticas de modo realmente engraçado e, por vezes, até comovente. E também coloca em xeque vários hábitos pouco lisonjeiros dos franceses, como o desleixo com higiene e o temperamento exageradamente passional. No final das contas, acaba sendo mais uma questão de relacionamento íntimo do que propriamente choque entre culturas. Adam Goldberg, sua cara-metade na telona, faz de seu Jack uma figura simpática, com a qual nos identificamos. Talvez por não ter uma imagem excessivamente ianque, ou seja, também fugir do estereótipo esperado. Memorável a hilária seqüência em que ele sacaneia turistas americanos que procuravam o Museu do Louvre com a justificativa "essas pessoas votam no Partido Republicano!". Outro momento que merece destaque é a curta porém hilária participação de Daniel Brühl, assim como as discussões em família e o motivo de pai de Marion odiar Jim Morrison.

Uma curiosidade: Julie Delpy – que já dirigiu anteriormente dois curtas e um longa, todos inéditos por aqui – escalou os próprios pais como intérpretes dos pais de sua personagem. Vamos ficar de olho nos próximos passos dessa moça e torcer para que a qualidade demonstrada em 2 Dias em Paris se repita em novas produções. O filme estréia sexta, dia 14.

6 de mar. de 2008

Fim da Linha


Estréia amanhã o criativo Fim da Linha, primeiro longa de Gustavo Steinberg, roteirista de Cronicamente Inviável. O filme não tem uma trama linear e sim um olhar crítico e bastante debochado sobre um punhado de personagens cujos caminhos se entrecruzam em algum momento da história. O tema condutor é a ambição desenfreada e a teoria de que as pessoas perdem qualquer fiapo de racionalidade quando o que está em jogo é ganhar dinheiro. Ou se apropriar do dinheiro alheio, mesmo que nem saibam o que fazer com ele.

Os ótimos tipos desenvolvidos por Steinberg são o grande atrativo da história. Entre eles temos: um documentarista cheio de idealismo, mas que não se importa de ser sustentado pela mulher; uma tribo indígena que quer transformar sua dança da chuva em produto comercial; uma perua dona de boutique que faz as amigas se endividarem em sua loja; um deputado que tem um armário cheio de dinheiro e alega ter sido sorteado na loteria 1.313 vezes, mas não dispensa a oportunidade de ganhar uma aposta; um catador de lixo que cata tudo que encontra pela frente, até seres humanos... e por aí vai.

Todos esses personagens – e mais alguns – ao longo do filme desconstróem a primeira impressão que temos deles, o que acontece tão logo o dinheiro ou possibilidade de ganhá-lo se apresenta. Somente o deputado Ernesto Alves (última aparição do recém-falecido Rubens de Falco), com seu cinismo político, se mantém o mesmo escroque do primeiro ao último fotograma. O que o torna, no final das contas, o personagem mais sincero de todos.

O bem-humorado roteiro tem diálogos deliciosos, com destaque para a cena em que o jornalista vivido por Leonardo Medeiros discute com o pajé sobre a viabilidade de cobrar por um produto que ninguém quer comprar. Também são extremamente divertidas todas as discussões ocorridas dentro da van, assim como o embate entre a mendiga e o catador de lixo. Claro que o filme apresenta algumas situações absurdas, mas até mesmo esses momentos de nonsense têm um sentido dentro da proposta do longa, que se utiliza desse exagero para fazer uma alegoria sobre o quanto a ambição faz as pessoas pirarem.

Fim da Linha é uma produção que chama a atenção pela criatividade, simplicidade e bom humor e que merece ser vista. Mas o espectador tem que correr, já que o longa estréia com circuito limitadíssimo: quatro cópias, sendo três em São Paulo e apenas uma aqui no Rio de Janeiro (o filme entrará em cartaz somente no Estação Gávea).

5 de mar. de 2008

Nova Novela?

Confira: Atores podem entrar em greve em Hollywood

Mal terminou a greve dos roteiristas e agora são os atores que ameaçam entrar em greve nos Estados Unidos. Risco real ou mera bravata?

Um pouco de cada. A greve dos roteiristas surpreendeu pelo tempo de duração, 3 meses, e pelo apoio recebido, tanto popular quanto do SAG, o Sindicato dos Atores. A cerimônia do Globo de Ouro foi cancelada, o Oscar esteve sob risco, séries e programas de TV foram cancelados ou adiados, filmes também sofreram mudanças ou adiamentos... Resumindo, perdeu-se muito dinheiro. Os produtores compraram a queda de braço com os roteiristas sem esperar que estes tivessem tanta força e saíram perdendo na história.

E agora vem outra queda de braço pela frente, mas com importantes diferenças. A 1ª é que o risco de greve tornou-se real. Os roteiristas provaram que, se for preciso, uma classe pode realmente cruzar os braços em Hollywood, algo que muitos consideravam improvável e até impossível. Isto já fez com que os produtores iniciem negociações para renovar o contrato com o SAG, mesmo faltando cerca de 4 meses para seu término.

A 2ª é que a vitória dos roteiristas dá força aos atores em sua negociação. Chega a ser natural que haja mais exigências, ou ao menos mais empenho em que as reinvindicações do SAG sejam aceitas. E os produtores sabem disto. Tratar a negociação com o mesmo desdém, tentando impôr um contrato, fatalmente levará a uma nova greve. Onde mais dinheiro será perdido, com certeza. E isso os produtores de novo não querem.

Ainda é muito cedo para afirmar que haverá uma greve de atores. Uma ameaça deste tipo é reflexo do trauma que a greve dos roteiristas provocou em Hollywood, nada além disto. O risco de uma nova greve é real, mas esta possibilidade também faz parte do velho jogo que sempre permeia negociações deste tipo, onde cada lado usa as armas que têm para obter um melhor acordo. Afinal de contas cinema, especialmente em Hollywood, é um grande negócio.

3 de mar. de 2008

Bonitinha Mais Uma Vez na Telona


Começam essa semana as filmagens de Bonitinha, Mas Ordinária, uma das mais famosas peças de nosso dramaturgo maior, Nelson Rodrigues. Esta é a terceira vez que a história de Edgard, rapaz pobre que vive o dilema de se corromper ou manter a integridade, é levada para a telona. A primeira foi em 1963, com roteiro do próprio autor e Odete Lara à frente do elenco. A segunda (e mais famosa) versão é a de 1981, com direção de Braz Chediak, Lucélia Santos no papel de Maria Cecília (a "bonitinha" do título) e Vera Fischer como Ritinha.

A nova adaptação traz Leandra Leal como Ritinha (que, apesar do que sugere o título, é a verdadeira protagonista da história), João Miguel como Edgard e a novata Letícia Colin como Maria Cecília. Completam o time Leon Góes como Peixoto, Gracindo Junior como Dr. Werneck e Angela Leal como a mãe de Ritinha. A direção ficará a cargo de Moacyr Góes, que já dirigiu uma montagem da história em 2000, e o orçamento previsto está no patamar de três milhões de reais.

A equipe recebeu a imprensa no Cine Odeon na última sexta-feira, para uma coletiva de anúncio do projeto. Um dos focos de maior curiosidade era Letícia Colin, de 18 anos, escolhida dentre mais de 40 candidatas para viver a polêmica Maria Cecília. A jovem atriz demonstrou segurança e firmeza e disse ter baseado toda sua composição de personagem no texto original: "O filme é uma versão da peça (...) Não tem a ver com o outro filme, tem a ver com a peça."

O ator Leon Góes, que foi Edgard na versão teatral de Moacyr e agora interpreta o alcoviteiro Peixoto - exemplo do que Edgard se tornará caso se venda -, arrancou risadas dos presentes ao comentar o fato de agora estar fazendo um personagem mais velho: "O próximo passo é fazer o Dr. Werneck".

João Miguel, uma dos atores mais presentes no cinema nacional do momento, já atuou em três peças de Nelson Rodrigues e se mostrou um conhecedor apaixonado da obra do autor:

"Esse personagem, o Edgard, é um herói desconstruído. Um herói que quase não é herói, porque eu acho que o Nelson fala da classe média brasileira como ninguém e compõe o cidadão que passa por esses conflitos do poder, do amor, da vida, numa via-crúcis de sobrevivente."

O ator se mostrou, ainda, muito satisfeito com os rumos do projeto e com o entrosamento com a equipe:

"Quando eu vejo o Moacyr falar, vejo que ele carrega essa paixão também. E o grande prazer é o encontro pela paixão (...) E esse elenco maravilhoso, e os novos colegas que a gente conhece. Se não tiver isso, fica sem graça. Se não tiver o amor, se não tiver o desafio, fica tudo muito previsível."

Bonitinha, Mas Ordinária tem previsão de filmagem para as próximas quatro semanas, mas ainda não há estimativa de uma data de lançamento para o longa.

Artista ou Celebridade?

"Num mundo muito marcado pela celebridade, quem tá começando a carreira tem que tomar essa decisão: ou você se transforma num ator, e isso é uma definição de vida, ou você se contenta em ser célebre. Aí os seus valores são outra coisa. E não existe contradição entre ter uma carreira de ator ou atriz e ser célebre. Mas é uma decisão que você tem que tomar. E ela chega quando determinados personagens se apresentam."

- Moacyr Góes, elogiando a seriedade e dedicação da atriz Letícia Colin

Cada Um Com Seu Cinema

Em comemoração ao 60º aniversário do Festival de Cannes, Gilles Jacob, presidente do evento, convidou 34 cineastas do mundo inteiro para contribuir com um curta de três minutos. Essa é a proposta de Cada Um Com Seu Cinema: diferentes estilos e abordagens, tendo como tema em comum o amor ao cinema. Ou a visão particularíssima de cada um sobre o assunto. Dentre os realizadores, destacam-se nomes como David Cronenberg, Roman Polanski, Walter Salles, Lars Von Trier, Zhang Yimou, David Lynch e Alejandro González-Iñárritu.

Numa obra conjunta, ainda mais uma tão fragmentada como essa, é até injustiça exigir perfeição de todos os segmentos que a compõem. Estão aí de exemplo realizações parecidas, como Paris, Eu Te Amo e Crianças Invisíveis. E Cada Um Com Seu Cinema ainda tem como complicação extra a curtíssima duração de cada segmento.

A boa notícia é que, apesar dessas adversidades, o filme consegue se nivelar por cima, ou seja, o número de bons curtas excede em muito o número de curtas insatisfatórios. O que se pode apontar é uma tendência pouco inovadora na maioria dos curtas orientais (alguns chegam a ser prosaicos). O de Wong Kar-Wai, por exemplo, parece uma versão reduzidíssima de algum de seus longas. Já daqui da banda ocidental, merece um bom puxão de orelhas Gus Van Sant. Seu filme é, no mínimo, preguiçoso. Mas essas pequenas decepções são, de fato, minoria.

O grande destaque fica com o delicioso Ocupação, de Lars Von Trier, onde o próprio cineasta aparece no escurinho do cinema sendo torturado por um vizinho de poltrona inconveniente. Também merece aplausos a inteligente alegoria de David Cronenberg em O Suicídio do Último Judeu do Mundo no Último Cinema do Mundo. O título dispensa outros comentários. Provocação também é a marca registrada de Final Feliz, de Ken Loach, que apresenta novas e hilárias sinopses de estilos de filmes que vemos todos os dias em cartaz. Também chamam a atenção as surreais contribuições de Jane Campion e David Lynch – cujo nome, estranhamente, não aparece creditado no cartaz do longa.

Noves fora, o espectador de Cada Um Com Seu Cinema sai da sala escura com um saldo positivo de olhares ternos, engraçados, críticos e muito originais sobre o amor pela sétima arte. O filme estréia no dia 7 de março.

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